Recordo que o amor era uma branda fúria
não expressável em palavras.
E assim mesmo recordo
que o amor era uma fera lentíssima:
mordia-me com seus caninos de açúcar
e adoçava o toco ao desprender o braço.
Isso sim lembro-o.
Rei das feras,
matilha de flores carnívoras, buquê de tigres
era o amor, segundo recordo.
Lembro bem que os cachorros
se assustavam de ver-me,
que se eriçavam de amor todas as cadelas
só de observar a aura, cheirar o brilho do meu amor
- como se o estivesse vendo -.
Recordo-o quase de memória:
os móveis de madeira
floresciam ao toque de minha mão,
me seguiam como mulherengos
grandes e magros rios,
e as árvores - ainda que infrutíferas -
davam por dentro ressentidos frutos amargos.
Recordo muito bem tudo isso, amada,
agora que as abelhas
caem ao meu redor
com o bucho cheio de excremento.
Poema de Eduardo Lizalde, grande poeta mexicano da atualidade.
Traduzido por Raul Albuquerque.
Nenhum comentário:
Postar um comentário