Inocência,
depois de anos de estadia,
acordei e ela já não estava lá.
Isso aconteceu há algum tempo.
Minhas memórias
já não dão conta
da época em que
ela estava por aqui.
Por vezes, lembro-a como
uma menina
em vestido branco de
seda e tule
que dança a valsa das flores
no meio da sala.
Ou estaria nua,
Inocência?
E, em seu corpo
assexuado,
meus olhos
viam apenas
os pássaros do céu
da boca...
Inocência,
se menina for,
teria fugido?
Mas por quê?
Seria-lhe insuportável
as sujeiras que surgiam
eventualmente
nas paredes, no chão,
na varanda?
Inocência,
por vezes lembro-a como
caixa branca
inviolável.
Mas não a acho
e não me lembro de
tê-la jogado fora
- ela era tão linda...
Deve estar perdida
sob as roupas sujas
- quanta preguiça de lavá-las -,
sob os livros abandonados
- quanta preguiça de organizá-los -,
sob os rascunhos de poemas
- quanta preguiça e
quanto medo em terminá-los.
Inocência,
por vezes lembro-a
como menina, caixa ou delírio,
por vezes esqueço-a
como se nunca houvesse sido.
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