O ataque em lá
da flauta transversal
traspassou
meus mil muros
- cansados de esperar por alguém
que os derrube -
e tocou violenta
e singelamente
o que mais resguardei:
o fruto sagrado
que, se guardado,
é eterno,
se exposto,
acaba estragado.
O ataque em lá
da flauta transversal
traspassou meu corpo
e, em vez de morto,
vi-me vivificado
no esvaziar-me de mim
pelo corte aberto
na carcaça imunda
e, só então,
pude encher o pulmão
de ar e de esperança,
ascendendo aos céus
e
acendendo as luzes.
O ataque em lá
da flauta transversal
varou o salão
e só sei que
ouvi portas abrindo,
paredes caindo
e filhos nascendo.
Raul Albuquerque
10/05/2013
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