Bem-Vindo ao Estação 018!


Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

sábado, 30 de novembro de 2013

in verter

de:
raul

não sei quais foram os seus métodos
não sei se estava acordado quando você fez isto
ou se me fez dormir e me roubou costelas
ou se me iludiu com os olhos
enquanto me lia com as mãos
mas quando dei por mim
estava invertido

luar


quinta-feira, 28 de novembro de 2013

flúor na água

 a Nathaly Monte

Àquela que sabe 
                    (porque um homem de respeito disse)
             que o que sai do homem
          e não o que entra nele
                    é que o contamina

Àquela que estuda
             que o que entra no homem
     também o contamina

   Àquela que 
por mais que ame
                                um café
       sabe que
                      às vezes 
                                     privar-se
também é sinal de amor

Àquela que cita na oração
                              as giárdias e faz do pedido
                              quase uma aula de biologia
                  àquele que não precisa de aula

Àquela que lembra e conta o passado
      e faz com que eu esconda meu riso descontrolado 
                                         sob a mesa

Àquela que evita fotos
             e esconde seu riso
                            sob a mesa

Àquela que gosta do anacronismo

Àquela que chega quando não tem aula

A ela
          que não falte 
                                 A ela
 flúor na água para 
                         proteger o sorriso
                      (que não deve ser escondido   ;)

Raul Albuquerque
28/11/2013                        

volte sempre


eu não sei por que uso 
tantas palavras tão difíceis,
se te amar é tão fácil...

eu não sei por que uso
tantas palavras tão grandes,
se te amar é tão breve...

talvez seja para contrapor

eu peço para segurar sua mão
... queria saber dançar

dá-me um prazer irredutível
só reduzir teu nome
e fazer-te meu sol
porque rima

é inconsequente te querer
mas dou-me esse direito
ainda que não tenha

quando olho o relógio
quero que não seja tarde

sei que os grandes amores
são incendiários e são sem contrato
então
me perca 
me esqueça num canto
me diga 
me compre num riso
me leve
me deixe só
mas volte
        volte sempre

talvez esse meu
volte sempre
seja igual ao
volte sempre
daquelas cidades
do interior 
que não têm mais de uma rua
uma igrejinha
uma venda
pessoas na calçada
aquelas cidades
que nada parecem oferecer
que a gente nunca pensa em morar nelas
mas elas deixam lá
por descuido ou esperança
uma placa de 
volte sempre

vai que alguém queira voltar?
vai que alguém queira ficar?

que incrível seria se você
viesse 
e ficasse...

Raul Albuquerque
28/11/2013

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

_ carta

__
Sempre ouvi que não se deve começar falas ou cartas pedindo desculpas por algo, mas não vejo outro modo de iniciar isto aqui.

Então, perdão por já começar assim, pedindo perdão.

É que eu tenho errado tanto e tantas vezes e... tenho sido indigno. Quem fecha-se em muros não merece brisa, mas eu, que em muros me mortifiquei, recebo sempre do teu sopro diário. Quem faz teto contra a chuva não merece sol, mas eu, que me cobri de concreto, recebo de tua luz por frestas que a própria luz abre. Quem não abre janelas não merece ver a rua, mas eu, que não rasguei as paredes, sei dos problemas dos que atravessam a rua com o celular no ouvido, os papéis na mão, o vazio no estômago, o oco no coração, o vácuo no pulmão e o atraso no pensamento. Quem não coloca portas não merece receber visitas, mas eu, que mantenho meu cárcere intacto, tenho tua presença nos fins de tarde, não tomamos chá ou café, mas algo do som quente dos teus pulmões aquece meus invernos que vigoram nas minhas caixas - torácica e craniana.

Tenho também que agradecer pelas tuas surpresas, as que eu nem sei contar e que ainda preciso te perguntar sobre o como e o porquê.

Os caminhos não me cantam futuros. São todos incerteza. E eu aguardo tua visita amanhã ou hoje ainda, precisamos conversar. Tenho medo de que você canse e me abandone no meu cubículo - que é fechado e pequeno, mas bem localizado.

Eu me morro numa vida de felicidade inverossímil. Gosto de me despir dos adornos na sua frente - sem medalhas, sem armadura - e de dizer que estou tentando aprender, mas pareço não saber ler os teus recados na caixa de mensagens. Sei dos teus quereres em mim, mas não os conheço, e te amo, o que me destrói e me enche dum impreenchido desejo de ser.

Ser não o que sou - que é pouco. Ser não o que vi no delírio. Ser não o mais alto ou o mais central. Ser o que teus sussurros regem e o que teus olhos acompanham. Não tenho medo de tua mão, quando a sinto, ela já foi e deixou apenas a ferida ligada, como que costurada nas tuas linhas.

Preciso dormir. Espero sua visita. Deixarei café e chá prontos pra te esperar. Preciso saber quais são os meus planos.
Apareça, assim que der.



____________________ R. Albuquerque

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Sabê-lo

O saber é pessimista:
anota todas as dores
destaca os malfeitores
e põe tudo numa lista

O saber é pessimista:
analisa tudo o que dói
sente tudo o que corrói
e põe tudo numa lista

o saber é pessimista:
corta em partes o bem
coloca-nos como reféns
e põe todos numa lista

A todos é dado morrer:
como prêmio ou punição
como tese de conclusão
e é pessimista o saber

Raul Albuquerque
07/11/2013