Nasci escravo
por herança:
sou filho de Homero
- talvez o escravo primeiro.
Vivemos cercados
por paredes
tão concretas quanto o encanto;
tão vivas quando a imagem de quem morreu;
tão próximas quanto a utopia mais distante.
Assim, a nós outros,
os que nascem escravizados,
o encanto é o que há de mais concreto,
as imagens dos mortos saem da parede e falam,
o amor está sempre próximo
- ameaça constante.
Se tais coisas
não são desse inebriante modo
em teus domínios,
és livre.
Eu sou escravo
- o que lamenta,
resmunga, faz cena
e ri-se de si próprio
ao fim do espetáculo.
Mas não tenhas
pena de mim
- herdeiro da pena
de Camões.
Um dia hei de ser liberto,
deixarei aqui meu corpo
e sairei livre a desenhar
sete sóis no asfalto
das ruas
da morte.
Raul Albuquerque
25/05/2013
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