desceu sobre mim teu olhar
e fui pedra.
o tanto que busquei-te
para condenar-te e castigar-te
para matar-te, roubar-te a cabeça
e entregar-te à traída.
saí de meu dia
e caminhei para as tuas densas
escuridões - para matar-te.
falavam de um rosto angelical
numa moldura que serpenteava
- belas letras desenhadas
em pele de cobra.
segui e fui e continuei
e segui e fui e continuei.
quando a luz minguou
e a noite foi caindo, senti
que te aproximavas
- a cegueira já me tomava.
da escuridão surgiste
com teus cabelos vivos
e eu - que fui designado
para matar-te -
entrei em teus olhos
e então fui pedra.
hoje já não me movo
nem movo moinhos
- sou água passada e petrificada.
hoje estou no teu jardim
- como alegoria -
no meio dos tantos outros
que tentaram matar,
mas renderam-se
e acabaram aqui
- no teu jardim.
e aqui há anjos,
fontes, pombas,
figuras anônimas
e há eu
- que não sei o
que faço aqui.
um dia alguém há
de serrar-te o pescoço
e levar tua cabeça no escudo
- e serei liberto.
mas desceu sobre mim teu olhar
e sou pedra.
Raul Cézar de Albuquerque
26/03/2013
Dedicado (atrasadamente) a Laisa Barreto.
É realmente interessante a narrativa que conseguiste construir, toda em cima da metáfora. Se me permite a advertência, cuidado com os recursos que usas - a aliteração, nesse caso - ao invés de tornar o texto mais atraente, pode torná-lo cansativo.
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