Bem-Vindo ao Estação 018!


Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Alforria




I

É tempo de medo e jugo.
É tempo de liberdade necessária
- e arredia.
É tempo de alforria.

II

É tempo de prender
- e exterminar – as borboletas
que insistem em dançar dentro
de mim quando tu ris das minhas besteiras.

É tempo de segurar
esse sorriso ilógico que emerge de mim
pelo simples fato de
estar eu podendo falar contigo.

É tempo de proibir
depredações desnecessárias
do próprio patrimônio
- em favor de um riso,
que nem sei se é de verdade.

É tempo de proibir
palhaçadas, festas, recitais e saraus.

É tempo de castrar
instintos, descontroles
e alegrias – e tristezas – incontidas.

É tempo de por tudo
em ordem.

III

É tempo de proibir
a própria escravidão.
É tempo de sair do mercado
e retirar do pescoço a placa “vende-se”.
É tempo de liberdade.
É tempo de alforria.

IV

É tempo de novos tempos.
de novos rumos.
De novos homens.
De novas ilusões.
De novas casas para a felicidade
- que, há tanto tempo, habita no cume
do mesmo monte inacessível.

É tempo de novidades.
De novas idades.
De novas dádivas.
De novos dilúvios.
De novas luvas
- menos brancas que as de sempre
para disfarçar as impurezas.

V

É tempo de novas rédeas
para os velhos cavalos
- nunca é tarde para aprendermos
o jeito certo de fazer-nos felizes.

É tempo de ler as placas:
“cuidado, animal feroz”
 “afaste-se, alta tensão”
 “cuidado, amor insano”
“afaste-se, pouca atenção”

É tempo de abortos espontâneos,
ou nem tão espontâneos assim
- histórias que findam sem ter começo.

É tempo de partos anormais
- fetos ejetados e esquecidos,
consumados e consumidos.

É tempo de racionamento de alegrias.

É tempo de abastecer de lágrimas
o cantil.

VI

É tempo de amputações voluntárias
- “o meu amor é teu” – e de
aproveitar o sangue que jorra
desses transplantes improvisados
- e geralmente malsucedidos –
para escrever na pele da coxa esquerda
a própria carta de alforria:

“Amo-te, finalmente, como quem quer bem
a um cão sujo que viu na rua.
Mas ainda amo-te com o mesmo ardor.
Já te amei, é verdade, de maneiras mais belas,
mas nunca de modo tão verdadeiro.”

Raul Cézar de Albuquerque
10/02/2013

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