pregada na parede barrenta
a barroca imagem lazarenta.
que não é de lázaro, ironicamente,
é de outro personagem fremente.
é de um tal moço de nome jesus
que vive colado naquela cruz
pregada na parede barrenta
a barroca imagem lazarenta.
e o homem que com o sol acorda
encontra naquela imagem a corda
do pleno não-suicídio diário
e da pureza longe do vigário
que fala tudo no mais belo latim
ninguém entende - melhor assim.
e o homem que com o sol acorda
nunca sai da margem - da borda.
e quando olha aquela imagem
não vê sonho nem miragem
o triste homem vê-se no espelho
- aquele rosto sofrido é o seu modelo.
o sofrimento que não tem fim
o pedido de misericórdia sem sim
e quando olha aquela imagem
não vê sonho nem miragem.
a lavoura espera improdutiva
pelo homem de vida cativa
não cativada, mas em cativeiro
catando o sonho nunca inteiro
de ser de verdade
de ser da cidade
a lavoura espera improdutiva
pelo homem de vida cativa.
bate o sol impiedoso ao meio dia
na terra de fartura sempre arredia
a barroca imagem inerte permanece
da cruz a figura amada não desce
nem desce o sol
como lento caracol
bate o sol impiedoso ao meio dia
na terra de fartura sempre arredia
a testa que sua, o sino que soa,
a vida que é sua, a vida que voa
e nunca pousa naquela casa
d'algum pássaro sem asas
que se prendeu à terra
seca que sempre desterra
a testa que sua, o sino que soa,
a vida que é sua, a vida que voa.
a vida amarga na alma amarga
a tristeza que a mão não larga
morre ele sem prata nem ouro
a roupa de sempre de couro
vai ser trocada por madeira fuleira
ao som do desafino da carpideira
a vida amarga na alma amarga
a tristeza que a mão não larga
ele morre e o tal jesus fica lá
esperando alguém pra retirar
o corpo vai para cova rasa
morto é o pássaro sem asa
que agora experimentaria o céu
ou só o improvisado mausoléu
ele morre e o tal jesus fica lá
esperando alguém pra retirar
pregada na parede barrenta
a barroca imagem lazarenta.
que não é de lázaro, ironicamente,
é de outro personagem fremente.
é de um tal moço de nome jesus
que vive colado naquela cruz
pregada na parede barrenta
a barroca imagem lazarenta.
Raul Cézar de Albuquerque
23/02/2013
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