Bem-Vindo ao Estação 018!


Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Inscrito em pedra


As histórias dos livros são superficiais.
As nossas anotações são superficiais
- basta uma borracha, e apagam-se;
basta um corretivo, e voltam a esconderem-se;
basta uma chama incontida, e queimam-se, voam para o sem-fim.

As histórias que realmente importam
são gravadas - dia a dia - nas placas de mármore
- na alma - pelo cinzel da verdade e pelo martelo 
- que segue golpeando impiedosamente:
tic-tac! tic-tac! tic-tac! tic-tac! tic-tac!

Escrever assim a própria história é
- de certo modo - prazeroso,
pois é começar a distinguir-se dos outros
pelo que já se leva inscrito em si.

E as mais belas histórias são escritas 
nas partes mais destacadas das placas
etéreas da existência.
Mas, se algo ocorre e torna-se necessário
esquecer aquilo, o processo ou é insuficiente
ou é doloroso.
Restam apenas duas opções:

Ou cobrimos a parte que nos insulta
e constrange a memória, o que não traz
um resultado perfeito
- pois sempre resta algo descoberto (que dói) -,
mas é um bom paliativo.

Ou lixamos a parte que nos faz contorcer 
de dor saudosista, o que não é fácil nem indolor
- sentir sua mais bela história desfazer-se
em pó é massacrante -, mas depois de um tempo
não aparecem resquícios da tragédia
e fica-se pronto para outra história
- para outra decepção?

Depois de muitas histórias sobrepostas
- ou só uma que não poderia ser apagada -,
vem a morte e quebra as placas
- sem nem ler o que ali estava escrito.

E agradeço por só ter uma vida.
Se os gatos levam sete vidas, é por que aprenderam a cair
sem machucarem-se e prontos para continuar 
a caminhada. 
Eu, se caio, penso bem se vale a pena levantar
- se vale a pena lixar-se sem piedade até ver-se
pronto para outro conto de final infeliz.

Raul Cézar de Albuquerque
07/02/2013

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