Eis o desafio:
"Há de endurecer sem perder a ternura jamais".
Há de aprender, meu filho, a andar sozinho na rua
- e na vida.
Há de aprender, meu filho, a olhar para o lado
e não ver ninguém e não chorar nem reclamar
nem parar nem gritar nomes proibidos
nem blasfemar nem desistir.
As minhas filosofias talvez
não me façam o mais certo. Em todo caso,
não é essa a função delas. Elas me fazem ser eu,
e estão cumprindo o seu papel.
Eis o desafio:
"Há de endurecer sem perder a ternura jamais".
Há de observar, meu filho, o movimento dos galhos
e ver nele o sopro despreocupado da vida.
Há de observar, meu filho, o sorriso singelo e
perceber nele as marcas das ferraduras
do cavalo que puxa a carroça da vida
e pensar que será o próximo - sem pesar.
As minhas filosofias talvez
não me façam o mais desejável. Em todo caso,
não é essa a função delas. Elas me fazem ser eu,
e estão cumprindo o seu papel.
Eis o desafio:
"Há de endurecer sem perder a ternura jamais".
Há de anotar no caderno sem páginas, meu filho,
todos os pecados, as confissões, os perdões,
os ressentimentos, as dores, as patologias,
as frases ditas e ouvidas, os amores,
as ilusões, os sonhos e o indizível - sim,
há de anotar o indizível, meu filho.
Há de anotar na alma, meu filho,
um regulamento improvisado.
Há de sentir cada rabisco
- ou nota oficial - na pele da alma.
As minhas filosofias talvez
não me façam mais feliz. Em todo caso,
não é essa a função delas. Elas me fazem ser eu,
e estão cumprindo o seu papel.
Eis o desafio:
"Há de endurecer sem perder a ternura jamais".
Há de sentir petrificar a epiderme
e as articulações. Há de ser estátua para sempre.
Há de ser tenaz como os galhos mais frágeis, meu filho.
Há de ser mármore baldio
- refinado no sonho do sonho.
Há de ser estática imagem em praça pública.
Há de ser anjo de fontes italianas
ou gárgula de Notre-dame.
Haverá de ser.
Haverá.
Haverá, meu filho, ternura no fundo do poço da alma.
Raul Cézar de Albuquerque
08-09/03/2013
en la lucha de classes
ResponderExcluirtodas las armas son buenas
piedras
noches
poemas
p. leminski