Nos dias atuais, tem sido cada vez mais difícil incentivar o hábito da leitura. Por um simples motivo, a modernidade pede fins práticos, quando a literatura oferece meios subjetivos - e essa incongruência grita na sociedade.
Há pouco tempo, uma pesquisa oficial revelou que cada brasileiro lê, em média, 4 livros por ano - dos quais só dois são lidos até o fim, e nem quero questionar o que leem.
Então, nessa selva brasileira em que só lê quem tem paixão - e paixão mesmo - pelas letras impressas - caso de poucos privilegiados -, percebemos uma sociedade impensante, alienada e quase acéfala.
Assim, grandes nomes vão sendo esquecidos, livrarias vão sendo fechadas e a sociedade vai se acostumando a isso de modo espantoso. E, se o caso da prosa é grave, imagine o da poesia: livros premiadíssimos nem são comprados pelas livrarias, pois é lógico que não sairão das prateleiras.
Nestes dias, eu tive que encomendar um livro de Vinícius de Moraes, algo inadmissível, já que este é um dos poucos grandes nomes da nossa poesia. Assim, nem pergunto pelos livros de Walt Whitman, Chales Baudelaire, Fernando Pessoa, Augusto dos Anjos e de tantos outros esquecidos.
Nesse cenário, Milton Hatoum soltou uma que além de ser muito verdade, ainda penetra nesse campo da necessidade da leitura. Num bate-papo público, ele disse isto:
"Bem, vocês que são jovens corajosos, abram o ‘Grande sertão’ e leiam as 565 páginas. Isso para mim é um ato de coragem, ler ‘O jogo da amarelinha’, do Cortázar. Leia ‘Guerra e paz’. É um ato de coragem, transgressor, vai fazer bem para a sua vida, para a sua alma, para as conversas com a namorada. É um assunto e tanto. Já pensou, ‘Guerra e paz’? Três anos de conversa. Poucos momentos de silêncio e tédio. Chega o tédio, você fala: 'tem uma cena no Grande sertão…'. É um casamento, uma vida inteira. Quando ele entra nas veredas mortas… sabe por que veredas mortas? Porque alguma coisa vai acontecer. É um lugar sombrio, obscuro. Conta isso para ela."
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