Daqui, desta janela,
eu fico com calor:
sentimentos vem à flor da pele;
memórias sobem à cabeça;
desesperos me tomam.
Ainda na janela,
eu vejo algumas coisas
que me entristecem:
o meu jardim - seco;
a minha rua - vazia;
outro jardim - seco;
outra casa - deserta.
E eu penso em
visitar aquela casa
- é sempre bom
visitar outros desertos,
para perceber que o calor
tem suas variações.
E continuo aqui,
no deserto que criei,
vendo aquela casa deserta
com a porta entreaberta
me chamando para entrar,
mas continuo aqui.
Os ponteiros não param de girar
- em sentido anti-horário.
O Sol já se põe no leste.
E tudo permanece em ordem.
O manto azul-escuro
põe-se no céu com seus furos.
E faz frio. Faz muito frio.
E eu corro para a janela
- a fim de fechá-la -
e olho para aquela casa
- a casa deserta da porta entreaberta -
na esperança de ver alguém na janela
- alguém que possa anular
meu frio e meu calor, meu deserto.
Mas nada vejo
e fecho a janela
- com vontade de abri-la,
de me jogar dela
para a eternidade.
Raul Cézar de Albuquerque
21/04/2012
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