Clarice Lispector foi classificada como hermética pela crítica. Mas, para ela, o mundo era hermético, e, ao tentar descrever este mundo, ela inevitavelmente foi hermética. A compreensão da obra de Clarice não depende de um conhecimento literário prévio, pelo contrário, quanto menos se souber, melhor. Pois há mais espaço para ser preenchido pelo entendimento do não entender.
"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."
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