Espanha, envolta em sonho, despertando
como uma cabeleira com espigas,
te vi nascer, talvez entre as brenhas
e as trevas, lavradora,
levantar-te entre os carvalhos e os montes
e recolher o ar com as veias abertas.
Mas te vi atacada nas esquinas
por antigos assaltantes. Iam
mascarados, com suas cruzes feitas
de víboras, com os pés metidos
no glacial pântano dos mortos.
Então vi teu corpo desprendido
de arbustos, sujo
sobre a areia violenta, aberto,
sem mundo, incitado na agonia.
Até hoje corre a água de tuas rochas
entre os calabouços, e sustentas
tua coroa de espinhos em silêncio,
para ver quem pode mais, se tuas dores
ou os rostos que passam sem olhar-te.
Eu vivi com tua aurora de fuzis,
e quero que de novo povo e pólvora
sacudam as ramagens desonradas
até que se abale o sonho e se reúnam
os frutos divididos na terra.
Fielmente traduzido por Raul Cézar de Albuquerque.
Poema "La Guerra" de Pablo Neruda. Poema X do Canto XV do livro "Canto General". Escrito em 1949.
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