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Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

El Poeta (de Pablo Neruda)

 


Antes eu andava pela vida, no meio
de um amor doloroso: antes retive
uma pequena lágrima de quartzo
cravando os olhos na vida.
Comprei bondade, estive no mercado
da cobiça, respirei as águas
mais surdas da inveja, a inumana
hostilidade das máscaras e dos seres.
Vivi um mundo de lamaçal marinho
em que a flor, logo, o lírio
me devorava em seu tremor de espuma,
e onde pus o pé resvalou minha alma
para as dentaduras do abismo.
Assim nasceu minha poesia, apenas
resgatada de urtigas, exercida
sobre a solidão como um castigo,
ou reservou no jardim da imundícia
sua mais secreta flor até enterrá-la.
Isolado assim como a água sombria
que vive em seus profundos corredores,
corri de mão e mão, ao isolamento
de cada ser, ao ódio cotidiano.
Soube que assim viviam, escondendo
a metade dos seres, como peixes
do mais estranho mar, e nas lamacentas
imensidões encontrei a morte.
A morte abrindo portas e caminhos.
A morte deslizando-se nos muros.


Fielmente traduzido por Raul Cézar de Albuquerque.
Poema "El Poeta" de Pablo Neruda. Poema X do Canto XI do livro "Canto General". Escrito na cidade de Santiago, Chile, em 1946.

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