Estou do lado de fora
e nada parece mais doloroso
agora.
Estou do lado de fora
e tudo o que é meu está lá
dentro.
Estou do lado de fora
e nunca soube como é não estar
dentro
- experimento hoje
a purgante sensação
de adão e eva
expulsos do paraíso.
Estou do lado de fora
e tenho a chave para entrar,
mas quem chegou antes
- e nasceu antes e gerou
quem me gerou -
me causa medo,
repulsa e medo,
arrepio e medo,
choro, soluços e medo.
Estou do lado de fora
e desabrigada após briga silenciosa
com quem não posso gritar.
Estou do outro lado da rua
olhando a casa que era minha
até que o passado gritou
e eu saí.
Estou do lado de fora
e o sol castiga
- mas não mais que aquelas palavras.
Estou do lado de fora
e uso os escuros óculos
- que não obscurecem
meu afônico desespero -
e ponho os fones de ouvido
- que não suplantam
as retumbantes vozes que
gritam passados e inverdades -
e decido ler um livro
- mas não passo do
primeiro capítulo,
pois o que se me passa
é o terror que vivo
(censura: 18 anos).
Estou do lado de fora
e só entro, se alguém for comigo;
e só entro, se alguém for à minha frente;
e só entro, se os céus agirem.
Se chover,
continuo do lado de fora.
Estou do lado de fora
e nada parece mais doloroso
agora.
Raul Albuquerque
(para Thaís Gomes)
24/04/2013
Não poderia ser mais perfeito.
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