Bem-Vindo ao Estação 018!


Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Abreviatura


Ele aprendeu a ser prolixo
e desenhava todas as palavras que aprendia
e não as poupava de serem ditas
- ainda que inoportunamente.

De início, 
tudo novo,
escrevia os sentimentos 
por extenso
e estendia a emoção
até onde pudesse,
até onde desse para ir
- ele iria.

De início,
tudo novo,
do vinho não sobrava gota,
goela abaixo tudo iria
até o último suspiro do dia.

Nas palavras extensas,
descobriu o arrependimento
- ah, as palavras que não voltam.

De tanto arrepender-se,
aprendeu que 
obedecer é melhor que sacrificar
e poupou-se de algumas palavras
- por mais sinceras e belas que fossem.

Assim,
aos poucos, 
o menino que 
abusava das maiores e mais plurissignificativas palavras
aprendeu o valor dos silêncios comedidos.
E diante dos erros cometidos,
nenhum arrependimento
mais sonoro que o duma alma
esvaziada.

Das mais dicionárias palavras intermináveis 
às abreviações, 
às minguações das palavras,
aos silêncios.

E dos poemas enormes,
das declarações mais inflamadas,
das respostas mais longas
- que a nada respondem -,
o garoto encantado desencantou-se
e todos os seus anseios cabiam em dois versos:

"Vou-me embora pra Pasárgada,
aqui eu não sou feliz."

Raul Cézar de Albuquerque
22/04/2013

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