Ele aprendeu a ser prolixo
e desenhava todas as palavras que aprendia
e não as poupava de serem ditas
- ainda que inoportunamente.
De início,
tudo novo,
escrevia os sentimentos
por extenso
e estendia a emoção
até onde pudesse,
até onde desse para ir
- ele iria.
De início,
tudo novo,
do vinho não sobrava gota,
goela abaixo tudo iria
até o último suspiro do dia.
Nas palavras extensas,
descobriu o arrependimento
- ah, as palavras que não voltam.
De tanto arrepender-se,
aprendeu que
obedecer é melhor que sacrificar
e poupou-se de algumas palavras
- por mais sinceras e belas que fossem.
Assim,
aos poucos,
o menino que
abusava das maiores e mais plurissignificativas palavras
aprendeu o valor dos silêncios comedidos.
E diante dos erros cometidos,
nenhum arrependimento
mais sonoro que o duma alma
esvaziada.
Das mais dicionárias palavras intermináveis
às abreviações,
às minguações das palavras,
aos silêncios.
E dos poemas enormes,
das declarações mais inflamadas,
das respostas mais longas
- que a nada respondem -,
o garoto encantado desencantou-se
e todos os seus anseios cabiam em dois versos:
"Vou-me embora pra Pasárgada,
aqui eu não sou feliz."
Raul Cézar de Albuquerque
22/04/2013
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