Eu
vou morrer.
Parece-vos
óbvio, mas, agora, parece-me próximo.
Por motivos que não merecem destaque, acabei
assim:
caído numa encosta de um caminho qualquer,
sem ter como sair daqui – por não saber, não
poder ou não querer.
Imóvel permaneço.
Eu já havia sonhado cenas piores
e o céu escurece, sinto uma lufada de ar.
Olhos para os lados. Ninguém.
O vazio parece tomar todo o espaço.
Um arrepio me toma - sou humano.
Eu posso chamar por alguém ou pedir socorro,
mas não me sentiria bem devendo minha vida a alguém.
Por que reluto em ter meu fim?
Olho fixamente para uma estrela solitária
- ela faz-me lembrar de mim.
Abismo. Fim. Nada.
Tudo parece desmoronar.
Não vou chamar ninguém.
Minhas pernas doem. Meus olhos umedecem-se.
Fecho os olhos e uma gota de som me faz abrir a boca.
Não vou chamar ninguém.
Respirar é doloroso.
Lembranças desenham-se no negro céu.
Vejo claramente
meus delitos expostos para todos,
minhas frases não-ditas são gritadas pelo vento.
Já não tenho medos, só ânsia de temê-los.
Não vou chamar ninguém.
Estou com sede. Há um córrego no horizonte.
Vou continuar aqui.
Sinto fome. Continuarei com fome.
Por que reluto em ter meu fim,
se tantas vezes já o louvei?
Por quê?
Já matei tantas pessoas
e agora chegou a minha vez
de desfrutar do ignoto sabor
da eternidade.
Tenho sorte, pois, pelo menos,
a morte não veio por mãos vingativas,
mas pelas calmas mãos da noite.
Fim. Não há finais felizes.
Há apenas finais.
E a morte é um fim,
apenas um fim,
o suspirar vazio da alma cansada.
É o fim.
Raul Cézar de Albuquerque
02/06/2012
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