Enquanto houver esta respiração ofegante,
viverei numa epopeia:
a de encontrar-me.
Fui posto entre as mais intermináveis
paredes de um labirinto.
Dédalo projetou meus meios
e Minos, o rei irrevogável,
determinou meu fim.
Em minha incursão,
alguém segura-me
através de uma corda
- dependo dela para voltar à realidade.
Entro sem medo de ter medo
- pois sei que temerei
em alguma vírgula da história.
Imergir entre as paredes
é perigoso.
Em cada esquina,
posso encontrar aquele que nunca fui
- os eus que reneguei.
O que levo no peito
não se contém.
Pelos corredores eternos,
encontro fugitivos
- mas eu nunca fugi,
sempre esperei com paciência
a liberdade ilusória.
Por vezes,
encontro loucos
- mas eu não enlouqueci,
ao menos, eu não percebi isto.
Já vi criminosos,
uns seguravam armas,
outros exibiam sonhos,
outros falavam
- não sei se cometi todos esses crimes,
mas já fui punido por
supostamente praticar alguns deles.
Cada batimento
e cada passo
em direção a minha face mais temida.
Já desenharam-no como um touro,
um leviatã e até compararam-no às quimeras,
mas ele nunca deixará de ser eu.
E quando eu encontrá-lo
- ele que me assusta e me pertence -
deverei matá-lo com um só golpe na cabeça?
Devo derrubá-lo?
Ou deveria deixá-lo vivo aqui dentro?
Talvez não valha a pena
sair do labirinto.
Quando voltarmos - eu, meu barco e sua vela negra -
para casa,
posso não ser bem-recebido.
Talvez o mar abra os braços
e receba alguns dos meus.
Por enquanto,
basta-me saber que existe casa,
que existe dúvida,
que existe o mar,
que existe ela,
que existe eu.
E que existe fim.
Raul Cézar de Albuquerque
22/06/2012
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