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segunda-feira, 11 de junho de 2012

O desrespeito a Lispector


Não há quem nunca tenha visto uma frase de Clarice Lispector vagando pelas redes sociais. Todos já tivemos este desgosto.
Subestimam Lispector, reduzindo-a a uma menina sentimental de 13 anos.
Qualquer pessoa que já tenha lido um romance, um conto ou uma novela da autora sabe que ela está longe de ser uma autora simples e resumitiva. Antes, completa, complexa e hermética (essa última característica, ela negava).
Seu livro mais aclamado, a novela "A Hora da Estrela", começa com algumas afirmações inconclusivas e atormentadoras: 
"Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou."
E essa Clarice filosófica e pensativa, por vezes até niilista, é que se encontra em seus textos. Ainda em "A Hora da Estrela", ela escreve: "Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever."
Num processo próprio, Clarice desenvolveu uma narratividade densa e sugestiva. Ao lado de Guimarães Rosa, ela figura na literatura como revolucionadora do romance brasileiro. 


Dói a qualquer leitor de Clarice ver uma de suas frases fora de contexto (e, às vezes, nem suas) passeando pela internet, amamentando uma alcateia de pseudo-leitores, fortalecendo a incultura e desrespeitando esta grande escritora. Dói.


Clarice Lispector é bem mais do que pensam. Bem mais. Muito mais.

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