Carlos Pena Filho, o poeta do azul, neste poema foi sincero no título, pois é um breve retrato de um adolescente. Fazendo uso de metáforas, o pernambucano, descreve, numa concisa linha do tempo, os anseios, as descobertas, as ansiedades, as realizações e uma certa nostalgia. Genial...
Aos dez anos,
tinha apenas
um catecismo discreto
e os olhos presos nas alvas
e nudas formas do teto.
Às vezes, em dias claros,
em tardes de sol concreto
retirava os olhos mudos
das alvas formas do teto,
sonhava tempo e navios,
mas seu sonho predileto
estava nos negros olhos
que habitavam seu afeto
e que ele há tanto buscava
longe das formas do teto.
Um
dia, a chuva imprevista
que às vezes cai no verão
dormiu sobre o seu telhado
molhou-lhe a imaginação,
tempo em que foi visitado
seu humilde coração
por Isa, Rosa e uma vaga
Maria da Conceição
e aquele mais do que nunca
herói do sonhar em vão
foi dormir com todas elas
nas curvas da própria mão.
Num
dia de aniversário
usou (a primeira vez)
solenes calças compridas,
gravata alegre. Era o mês
em que nos campos mais frios
e em outros campos, talvez,
inauguravam-se as rosas
imitando a quem as fez,
e aquele mais do que nunca
latino por sua têz,
apascentou em silêncio
as coisas que nunca fez.
Depois,
a moça morena
que em sua rua morava,
embora sendo tão pouco
para quem tanto aguardava,
mostrou-lhe: o esperar é vão,
E veio o beijo roubado
na penumbra do portão.
Enfim, na noite mais forte
que houvera em todo o verão
ambos foram dormir juntos
aquém das curvas da mão.
Aos
dezoito olhou p’ra trás:
perdera-se todo o afeto.
Olhou para a frente e viu
o nada por objeto.
Olhou p’ra cima e sorriu
das alvas formas do teto.
Carlos
Pena Filho
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