Bem-Vindo ao Estação 018!


Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Medo de não ser...



Não estava triste, nem depressivo, mas comecei a pensar nos meus medos (por um motivo que realmente desconheço). O poema veio quando pensei em "sempre tive medo de não ser feliz." Gostei do poema... Medo de não ser...



Eu sempre tive medo de não ser feliz.
De morrer sem ter vivido.
De não experimentar do que sempre quis.
De ser eternamente impedido.
Impedido de fazer de mim um aprendiz.
Tive medo de ter me destruído.

Eu sempre tive medo de não ser eu.
De me deixar levar pelas influências.
De confiar no que a vida me prometeu.
De me perder entre as consciências.

Eu sempre tive medo de não ser claro.
De estar perdido entre a Poesia e a Incerteza.
Pois perder-se neste terreno não é algo raro.
Pois, neste terreno, não estão a Arte nem a Beleza.

Eu sempre tive medo de não ser.
Eu tenho medo de apenas existir.
Mas meu maior medo é vir a morrer
Sem viver, sem tocar, sem sentir.

Raul Cézar de Albuquerque
28/01/2012

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A Poesia de Emily Dickinson


“Apesar do meu parco renome,
 Minha Arte, um Dia de Verão – Teve mecenas –
 Na primeira vez – foi uma Rainha –
 E depois – foi uma Borboleta –”
                               
Emily Dickinson
Os versos citados acima são da maior poetisa dos Estados Unidos no século XIX, Emily Dickinson.
Ela nasceu em 10 de dezembro de 1830, em Amherst, Massachussets, EUA. E morreu em 15 de maio de 1886, no mesmo lugar, na mesma casa. Aparentemente, uma típica mulher estadunidense do século XIX.
Depois da morte de Emily, sua irmã mais nova, Lavinia, encontrou um tesouro deixado por ela em seu quarto: 1775 poemas. O primeiro volume de poemas de Dickinson foi publicado em 1891, depois vieram mais dois.
Sobre a vida de Emily, sabe-se muito pouco. Era uma figura tão reclusa que ficou conhecida nos Estados Unidos como “a freira de Amherst”. Sabe-se que tinha um pai muito rigoroso que tratava os filhos com austeridade e controle, o que influenciou muito a delicada e bucólica poesia de Dickinson. O excessivo controle do pai sobre Emily acabou tornando-a uma mulher infantil, a partir dos vinte anos, só usou branco, depois dos trinta, consolidou sua clausura, não saindo de casa nem para o enterro do próprio pai. Esta casa é hoje um museu em homenagem a Emily e um local de peregrinação para vários amantes da poesia.
Os versos de Emily Dickinson com sua linguagem cotidiana indicam que ela passou por inúmeras fases depressivas.

“Eu perdi tudo por duas vezes,
E as perdas foram ao chão.
Por duas vezes eu fui mendiga
Diante das portas de Deus.”

Com sua pontuação incomum, descreveu sua vontade de liberdade e suas idealizações do além-casa.

“Há uma Zona cujos plácidos Anos,
Nenhum Solstício interrompe –
Cujo Sol constrói um perpétuo Meio-dia
Cujas perfeitas Estações aguardam –

Cujo Verão em Verões se instala, até
Que Séculos de Junho
E Séculos de Agosto cessem
E a Consciência – É Meio-dia.”

Com seu lirismo introspectivo, ela foi pouco a pouco se mostrando através de seus versos.

“Doces horas pereceram aqui;
Este é um importante recinto;
Dentro deste lugar esperanças já brincaram, –
Agora só sombras na tumba.”

Até hoje, alguns de seus poemas permanecem criptografados. Pois, complexos, abrem possibilidade para várias interpretações.

“Uma Extensão de Prata
Com Cordas de Areia
Para manter esta que está se apagando
A Estrada chamada Terra.”

Sem esquecer o tema central da Poesia universal, o Amor. A “Freira de Amherst” não ficou isenta dos batimentos cardíacos levemente acelerados.

“Eu não estaria incomodada – Muralhas –
Fosse o Universo – Uma Rocha –
E distante Eu ouvisse sua prateada Voz
Chamando do outro lado da Pedra –

Eu faria um túnel – até que minha Ranhura
Chegasse de súbito até ele –
Então minha face teria sua Recompensa –
Olhar nos seus Olhos –“

Nota: Versos de Emily Dickinson traduzidos e adaptados por Raul Cézar de Albuquerque.

Imagem Letrada #17


Imagem Letrada #16


Decadência...


O poema fluiu. Isso resume bem o sentimento do poeta em relação ao poema. É muito raro que o poema flua. Este fluiu. Espero que gostem...

Eu vi muitos bêbados caídos.
Eu vi lágrimas derramadas em Segredo.
Eu vi muitos amores traídos.
Eu vi a Vida ser vencida pelo Medo.

Eu vi os sábios em seu Silenciar.
Eu vi uma multidão de justos corrompidos.
Eu vi muitos tolos em seu Gritar.
Eu vi muitos calados – satisfeitos – iludidos.

Eu vi a Pureza cair no Esquecimento.
Eu vi mulheres e homens entregando-se.
Eu vi o Sentir ser vencido pelo Sentimento.
Eu vi inúmeros Virtuosos calando-se.

Eu vi seres amorosos serem esquecidos.
Eu vi o choro silencioso dos justos.
Eu vi a Alegria dos impuros em seus estampidos.
Eu vi a vitória da maldade a altos custos.

Eu vi a Morte visitar casas sem intervalo.
Eu vi a Tristeza invadindo vidas.
Eu vi a fraca Fortaleza e o seu abalo.
Eu vi a Liberdade abrindo feridas.

Eu vi a queda da Moral, como vi cair a chuva.
Eu vi Valores indo, em queda livre, ao chão.
Eu vi o estado terminal da Literatura.
Eu vi a boa música na sua mais clara depressão.

Eu vi a Regressão – Darwin estava errado.
Eu vi a Verdade ser vencida pela Ciência.
Eu vi o Direito à Vida ser brutalmente violado.
Eu vi a mais humana e notável Decadência.

Raul Cézar de Albuquerque
20-21/01/2012



Imagem Letrada #15


Escrever como se fala...


Acho que o poema não precisa de introdução. Ele é auto-explicativo. Escrever como se fala...



Dizem que é um problema meu
Não escrever como geralmente falo.
Dizem que parece não ser eu.
Pois, para escrever, eu me calo.

Calo-me para não impregnar a Poesia
Com este odor de existência,
Ou pior, semiexistência, eu diria.
A Poesia merece reverência.

As palavras que falo estão condenadas
Ao triunfo do Finito sobre o Eterno.
Mas as que escrevo serão imortalizadas
Pelo extremo e perpétuo Inverno.

Este Inverno de frieza viva.
Este solstício tão agradável
Que me faz uma pessoa cativa
Deste calor tão relevável.

As minhas palavras são impuras.
Mas as do dicionário estão purificadas pela Eternidade.
Elas vêm desde Homero, elas são duras,
Elas são pesadas, maciças, são palavras de verdade.

As palavras escritas além dos fonemas.
As letras, heranças latinas, além dos grunhidos.
A Poesia muito, mas muito além dos poemas.
Os versos vividos muito além dos sentidos.

Raul Cézar de Albuquerque
 20/01/2012

Imagem Letrada #14


Imagem Letrada #13


Imagem Letrada #12


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Imagem Letrada #11


Albert Camus e o Absurdo


Albert Camus

Romancista, ensaísta, contista, dramaturgo e filósofo, Albert Camus tem uma obra vasta, mas, diferentemente de outros escritores, toda sua obra pode ser caracterizada por um ponto comum: o absurdo.
Camus nasceu em 7 de novembro de 1913, na Argélia. Foi um homem mutilado pela guerra, e isso marcou sua produção, pois seu pai morreu militando na Primeira Guerra Mundial, quando ele ainda era muito pequeno. Sem pai, Albert e sua mãe foram morar num bairro pobre de Argel.
Dedicado e muito inteligente, Camus ganhou uma bolsa de estudos para o Liceu de Argel, de lá foi para a Universidade de Argel para estudar filosofia. Começou a jogar futebol, sua paixão, mas foi impossibilitado de continuar jogando por uma tuberculose.
Depois da tuberculose, Camus dedicou-se então totalmente à literatura. Leu os clássicos franceses e envolveu-se com a política de esquerda, chegando a escrever para um jornal socialista de Argel.
Começou realmente a produzir literatura em 1938, quando escreveu a peça Calígula, que só veio a ser encenada em 1945. Com o início da Segunda Guerra Mundial, Albert foi para Paris a fim de participar do movimento de resistência à ocupação alemã, e lá ficou trabalhando como editor de um diário parisiense.
Camus escreveu O estrangeiro em 1942, durante toda esta turbulência na Europa. O estrangeiro inicia a tendência de Camus ao absurdo e é seu romance mais celebrado até hoje. O livro é tão complexo que foi dito como “primeiro romance clássico do pós-guerra” e “precursor do nouveau roman (novo romance, movimento francês que pregava a reinvenção do modelo clássico de escrever)”.
Em O estrangeiro, o jovem Meursault é, basicamente, julgado por matar um árabe. Quando o juiz pergunta o porquê do assassinato, Meursault responde que foi “por causa do Sol.” Outro trecho do absurdo:
“À noite, Marie veio buscar-me e perguntou se eu queria casar-me com ela. Disse que tanto fazia, mas que se ela queria, poderíamos nos casar. Quis, então, saber se eu a amava. Respondi, como aliás já respondera uma vez, que isso nada queria dizer, mas que não a amava.”
Meursault acaba por ser o retrato do homem inconformado do pós-guerra. Sua alienação, seu desapego, sua sinceridade e sua entrega acabam por levá-lo a morte. O romance ligou o nome de Camus ao rótulo de existencialista, rótulo que ele não só negava como rejeitava.
Ainda em 1942, Albert Camus escreve seu tratado filosófico mais famoso, O Mito de Sísifo, onde, sem esquecer o uso do absurdo, ele discorre sobre o ser humano dotado de sua “divina disponibilidade de condenado à morte”, além de revelar que o absurdo é “o divórcio entre o homem e sua vida, entre o ator e seu cenário.”
Depois, em 1947, Camus publica A peste, romance em que ele escreve sobre sua fé na bondade do homem. Uma invasão de ratos numa cidade faz com que todos os moradores juntem-se para resolver o problema, em vez de tentar resolvê-lo cada um separadamente.

Pela década de 1950, escreveu seu último romance, A queda, uma série de monólogos de um homem bem-sucedido (onde Camus, despe-se na forma de Jean-Baptiste Clemence), escreveu também O homem revoltado, acerca da filosofia da rebelião, viajou pelo mundo defendendo a abolição da pena de morte, sendo grande porta-voz dos direitos humanos.

Em 1957, aos 44 anos, Albert Camus foi premiado com o Nobel de Literatura "por sua importante produção literária, que, com lúcida sinceridade ilumina os problemas da consciência humana no nosso tempo" e, após três anos, em 1960, morreu num acidente de automóvel na França.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Crítica do Filme "Sherlock Holmes 2: O Jogo das Sombras"

Não é o Sherlock Holmes

Do ponto de vista estético, o filme merece muitos elogios. Cenas de ação feitas à noite foram bem constituídas, mas pecaram pelo excesso de closes e câmeras lentas. Tudo, no campo dos efeitos, foi muito bem executado, mas o excesso deles nas cenas de ação deixou as cenas de conversas ou de conjecturas (todas diurnas) relativamente cansativas. Concluindo esta parte: para atrair o grande público, prezaram pela ação e nos privaram da inteligência do detetive mais famoso de todos os tempos.

O vilão não convence.
Do ponto de vista "roteirístico", o filme é estranho. Parece estar recorrentemente "roubando" ideias dos contos de Conan Doyle, pois as imagens que o escritor criou não percorrem todo o filme, apenas são deixadas no decorrer do filme, mas um conto foi especialmente utilizado, "O problema final". Neste conto, está a expressão "Ele é o Napoleão do crime!" e a recorrência dos disfarces de Holmes [que foi algo muito utilizado para humor no filme, quando, na literatura, é algo que mostra a perícia e a prudência de Sherlock]. O vilão, que é o professor Moriarty, não pega, pois no original é um homem que está no nível de Holmes, segundo o próprio Holmes, mas este não funcionou, só preencheu o vazio da imagem de um vilão.

Do ponto de vista humorístico, o filme é muito bom, mas é instável. O humor do filme às vezes funciona, às vezes, não. Baseado nos disfarces de Holmes, nas expressões de Watson e no absurdo (que terrivelmente acaba igualando o Holmes de Conan Doyle a qualquer personagem de Albert Camus), o humor do filme é, como já disse, instável, pois nem sempre funciona, ou pior, nem sempre é bom. 


A trilha sonora é impecável. Parece ser uma coisa feita junto com o filme, mas está baseada em Mozart (inclui representação de Don Giovani), Franz Schubert e outros compositores clássicos. Pelo menos a boa música não desapareceu para agradar ao povo.

Muita ação, pouca contemplação.

Do ponto de vista pessoal, uma coisa fere o filme fatalmente: "Aquele personagem não é Sherlock Holmes." Os roteiristas usaram a imagem, a fama e a atmosfera do detetive mais famoso de todos os tempos, mas não usaram-no, não usaram o Sherlock de Conan Doyle, eles inventaram um novo Holmes. 

O Sherlock Holmes do filme fica entre o gay apaixonado e o amigo possessivo do Dr. Watson; este não tem aquela admiração pela inteligência de Iréne Adler, tem apenas uma rixa com ela; este é mais lutador que propriamente um detetive (ele corre, bate e cai mais do conjectura, planeja e pensa) ; este é mais louco que gênio; este é mais fantasioso do que propriamente lógico.

O filme é bom, mas não é um filme de Sherlock Holmes. Poderia ser qualquer outro, poderia ser o Hercule Poirot ou o Auguste Dupin. Mas, com certeza, não é, não é, o Sherlock Holmes que o gênio Sir Arthur Conan Doyle criou.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Palavras Soltas...


O poema a seguir provém do ócio. Estava em casa sem fazer absolutamente nada. E decidi escrever algo. Liguei o notebook e nada vinha. E soltei palavras. O poema veio. Acho que as três imagens do poema foram bem construídas. Vi algo de modernista, de experimentalista... Gostei do poema.

- Pessoas. Duas. Pracinha. Sentar.
Medo. Desejo. Ansiedade.
Mãos. Suor. Toque. Silenciar.
Ânsia. Pressa. Calor. Vontade.
Encontro. Olhos. Riso. Beijar.
Sonho. Transformar. Realidade.

- Paisagem. Fora. Olhar. Janela.
Branco. Vácuo. Solidão.
Saudosismo. Passado. Amada. Ela.
Tristeza. Distância. Ilusão.
Suspiro. Vida-Morte. Vida-Cela.
Morte-Vida. Parar. Coração.

- Cópula. Coito. Concepção.
Espermatozóide. Óvulo. Feto.
Início. Zigoto. Embrião.
Filho. Pai. Mãe. Família. Afeto.
Controle. Exame. Proteção.
Nascimento. Ser. Completo.
Crescer. Entender. Erudição.
Entender-se. Ser. Incompleto.

Raul Cézar de Albuquerque
14/01/2012

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O futuro é agora!


Li em algum lugar, que agora esqueço, que "antes, nós vislumbrávamos e planejávamos o futuro, hoje, nós tropeçamos nele, tal é a velocidade com a qual ele chega."
Fato é que nunca foi tão perceptível o passar "de-flash" do tempo. E, o que vigora agora, amanhã, é nada. Esta metamorfose tão rápida e constante que enlouqueceria o pobre Kafka.
Medos, conceitos, projetos e sonhos, tudo parece correr e transformar-se. Tentamos manter intactos, pelo menos, os pontos mais sentimentais e subjetivos.
O tempo passa, eis a verdade. O tempo passa. Nós não podemos fazer nada contra isso. Podemos fazer tudo a favor, se quisermos, usando melhor o nosso tempo. Podemos esquecer o que é supérfluo e passageiro, passando a investir no duradouro ou, melhor, no eterno. Se bem que  não há muito espaço para o eterno no século XXI. 
Já consolidamos a efemeridade da beleza, da riqueza e do prazer carnal. Será que estamos para consolidar a efemeridade da vida, ou melhor, do tempo?

Coragem...



Vi uma revoada de pássaros e coloquei uma nota no celular: "Os pássaros migram". Ao chegar em casa, fiz o poema, eu gostei. Um ato de Coragem...



Os pássaros que vão migrando.
As folhas amarelas que vão caindo.
As rosas que vão desabrochando.
Os humanos que vão sorrindo.

Migrar, cair, desabrochar e sorrir.
São notáveis atos de coragem.
Desabrochar, sorrir, migrar e cair.
Atos que mudam nossa paisagem.

Migrar para um destino que parece incerto.
Cair da árvore para a terra seca, nua e fria.
Desabrochar pro mundo e manter-se aberto.
Sorrir mesmo que não tenha vindo a alegria.

Desabrochar sem medo e ir ao mundo.
Sorrir quando todo mundo pedem inexpressão.
Migrar por um sentimento mais profundo.
Cair, ir-se da origem sem medo de ficar no chão.

Bem-aventurados são os corajosos!
Pássaros sonhadores ou folhas amareladas!
Rosas ainda fechadas ou humanos desejosos,
Desejosos por vidas não-silenciadas!

Bem-aventurados são os corajosos!
Que se vão dos ninhos e migram para outros lugares,
Que caem sem medo dos terrenos rochosos,
Que desabrocham e sorriem sem medo de novos ares.

Raul Cézar de Albuquerque
11/01/2012

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A Vida É Um Jogo De Xadrez...


Sempre gostei de jogar xadrez, embora não o tenha feito muito nos últimos dias. Numa dessas noites em que a televisão não apresenta nada de bom, num momento de devaneio, olhei para cima do armário e vi aquela caixinha, com esforço percebi que era o esquecido tabuleiro de xadrez e suas peças empoeiradas. Comecei a relembrar as regras e fiz o poema.

A vida certamente é um jogo de xadrez.
Onde Deus [ou o Acaso, se preferir] é o jogador,
Onde todas as peças têm a sua vez.
Mas o xeque-mate não é o objetivo, é só o consumador.

Onde existem muitos, mas muitos peões.
Eles não dão grandes passos e não mudam de direção,
A não ser quando estão em extremas situações.
Neles a covardia se esconde atrás da cautela e da concisão.

Onde existem algumas torres, mas são poucas.
Elas dão grandes passos na direção escolhida,
Mas são retilíneas, não conseguem ser loucas,
Nem entregar-se a uma loucura perdida na vida.

Onde existem alguns bispos, mas são poucos.
Eles também dão grandes passos na direção escolhida,
Mas não conseguem ser retilíneos, são loucos,
Descontrolados, querem aproveitar ao máximo a vida.

Onde existem alguns cavalos, mas são só alguns.
Sempre dão os mesmos passos, só mudam a direção.
Técnicos, secos, frios, não são muito comuns.
Vivem passando por cima dos seus iguais, sem coração.

Onde existem pouquíssimas rainhas.
Elas têm a liberdade de ir para qualquer lado.
Decididas, andam muitas casinhas
De uma só vez, pois confiam no seu faro aguçado.

Onde existem pouquíssimos reis.
Podem seguir para qualquer um dos lados.
Comedidos, só dão um passo de cada vez.
São sensatos, mas são perseguidos e atacados.

Encontrou-se? Se estiver perdido no tabuleiro,
Procure sem muita demora o seu lugar.
Não deixe-se perdido até o momento derradeiro.
Pois a partida certamente irá continuar.

Raul Cézar de Albuquerque
08-09/01/2011

Uma Lembrança...



Estava lendo "O Estrangeiro" de Albert Camus. Nele há a descrição de uma imagem muito poética, muito bem feita. Era um homem, deitado, no meio do calor da Argélia. Decidi fazer diferente, uma mulher, estática em pé, no meio de uma paisagem fria. Acho que ficou bom...

Eu lembro-me da última vez em que a vi.
Eu nunca tinha visto nada igual,
Por isso tive certeza de que não me confundi.
Foi assim que a vi: estática e triunfal.

No meio de tanto nada.
Apenas olhei a mancha rósea na paisagem.
Na verdade, avermelhada.
Na verdade, não era miragem.

É, era ela. Era a minha emoção.
Era o meu sentimento todo ali.
Naquela imagem parecendo ilusão.
Naquele mundo sobre o qual nunca li.
Naquela mentira que era de coração,
Apaixonei-me logo pelo que vi.

Era ela com seu sobretudo vermelho,
Que, em vias normais, indicaria paixão,
Mas, no meio de todo aquele gelo,
Indicou apenas uma forte recordação.

A roupa vermelha e a expressão pálida,
O sorriso simples e a alegria notória,
O tempo frio e a presença cálida,
Tudo poetizava sutilmente sua história.

Depois deste último encontro à distância,
Hoje, vejo-a tão seca, sóbria e sincera.
Parece que já passou aquele desejo ou ânsia.
Tudo por ela já não ser quem era.

Raul Cézar de Albuquerque
06/01/2012

Reiniciar...



Estava na casa de praia com uns primos, um deles era muito, mas muito viciado em videogame. A única coisa que mudava era o jogo, mas ele quase não piscava. Era muito vício! Nós tínhamos que insistir muito pra ele ir a praia conosco. Acabei escrevendo o poema...

Ele nasceu e cresceu.
Ele pôs a trabalhar pra sobreviver.
A um amor ele se deu.
E continuou a vida tentando se manter.

Ele trabalhou mais um pouquinho
E alcançou uma vida de qualidade,
Pois em casa recebia carinho
E recebia dinheiro na cidade.

Ele teve os seus dois filhos amados
E acompanhou suas vidas diligentemente.
Fez-lhes homens trabalhadores e honrados.
Era seu sonho e era surpreendente.

Com todos seus sonhos realizados,
Percebeu que a ampulheta indicava o fim,
Percebeu que seu tempo havia passado,
Percebeu que a vida já não era assim,
Assim tão agitada quanto ela havia pensado,
Ele havia pensado na vida apenas do “sim”.

Tudo estava ficando repetitivo, resolveu se apagar.
Apenas decidiu desistir, e desistiu de sua vida.
Na tela, apareceu a janela perguntando se ele iria reiniciar.
E, obviamente, ele decidiu reiniciar a partida.

[quem não reiniciaria?]

Raul Cézar de Albuquerque
06/01/2012

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Papilas Gustativas...


Eu estou disposto a entregar-me
a este algo que me é oferecido.
Não tenho medo que isto me desarme,
pois já estou sem armas e rendido.

Não só tomar, mas lambuzar-me
deste mel que não conheço nem a procedência.
Só sei que ele irá alegrar-me
nem que seja só por um instante da minha existência.

É perigoso, mas eu não tenho capacidade
de negar nem de fingir nem de fugir.
Ou talvez eu só não tenha suficiente vontade,
talvez eu queira correr o perigo de sentir.
Sentir o calafrio do perigo de verdade,
sentir na pele o prazer de quase inexistir.

A mente grita por bom senso e concisão,
mas eu nada ouço, o coração está pulsando.
E pulsa, e bate, e pulsa, o meu coração.
De longe eu fico olhando, fico desejando.
Desejando isentar-me do virá depois desta ação.
Desejando que eu não continue só desejando.

Ah, eu sinto que tenho que me entregar!
Ainda que depois venha a decepção e seu amargor.
Se eu não o fizer, meu coração irá parar.
Irá parar sem que eu tenha sentido o tom agridoce do amor.

Raul Cézar de Albuquerque
03/01/2012


Uma tristeza indecifrável...

Falando de amor do meu jeito...



Ainda que meu hipocampo
Realize o absurdo de apagar-te,
Sempre estarei lembrando
Que tu és a minha e eu sou a tua parte.

A parte que surgiu bem distante
Da parte que é inteiramente nossa.
Esta parte que nos daremos logo adiante
Para que separar-nos ninguém possa.

Mesmo que meu cérebro te delete,
Minha alma não poderá te esquecer,
Ela sempre fará com que algo me afete,
Quando eu tentar ser feliz ser você.

Pois é impossível ser feliz sem sua existência,
Sem sua fala sincera, sem seu olhar.
A felicidade é impedida pela minha carência,
Minha carência de ter-te e te amar.

Uma tristeza indecifrável tomará a minha vidinha,
Esta vidinha que nunca melhorou e sempre me acometeu.
Toda vez que eu lembrar, que tu não fostes minha,
Ou pior, rememorar que eu nunca fui teu.


Raul Cézar de Albuquerque
02/01/2012

Os Monstros da Mitologia...


Eles são seres de proporções ou partes sobrenaturais. Eles são encarados com horror. Eles possuem ferocidade notável e força imensurável. Eles sempre empregam seus atributos contra os homens.
Os monstros da mitologia figuram no imaginário popular até hoje. Vejamos os maiores seres monstruosos da mitologia.

Esfinge:
 
A primeira referência a Esfinge na literatura está na lenda de Édipo, escrita por Sófocles. Na lenda, a Esfinge aparece como um ser que aterrorizava os viajantes cuja parte inferior assemelhava-se a de um leão e a superior a de uma mulher.
A Esfinge, segundo a lenda, vivia sentada no alto de um rochedo e apresentava um enigma a cada viajante, se ele acertasse, continuaria a jornada, se ele errasse, morreria.
Édipo chegou e a Esfinge lhe apresentou o enigma:
- Qual é o animal que de manhã anda com quatro pés, à tarde com dois e à noite com três? – foi a pergunta da Esfinge.
- É o homem, que engatinha na infância, anda ereto na juventude e com a ajuda de um bastão na velhice. – respondeu firmemente Édipo.
A Esfinge, de tão humilhada, jogou-se do rochedo suicidando-se.

Quimera:
 
A Quimera aparece na história de Belerofonte, jovem destemido e forte que já havia feito muitas proezas.
Ela é tão horripilante que é difícil descrevê-la. Ela expelia fogo pela boca e pelas narinas. A parte inferior de seu corpo era uma combinação de leão com cabra, a parte posterior, de dragão.
Num conflito familiar complexo, Belerofonte acaba por ser mandado para matar Quimera. Belerofonte percebe que não poderá vencê-la sozinho e vai com Pégaso ao seu encontro. Pégaso era o cavalo das musas, surgido do sangue de Medusa derramado por Perseu e amansado por Minerva.
Belerofonte com o auxílio de Pégaso obteve fácil e rápida vitória sobre Quimera.

Centauros:
 
São monstros com cabeça de homem e todo o resto do corpo de cavalo. Como os gregos admiravam os cavalos, são os únicos “monstros” com características admiráveis.
Envolveram-se numa batalha contra os Lápites. Eram admitidos em meio aos humanos, chegando a ser recebidos em casamentos. Num dos casamentos, o de Píritos, um dos centauros intentou mal contra a noiva e outros centauros envolveram na confusão.
Dentre os centauros notáveis destacam-se Quíron. Quíron recebeu lições de Apolo e Diana, tornou-se hábil em medicina, em caça, em música e em profecia. Ele foi o mais justo e sábio de todos os centauros, quando morreu, em recompensa, Júpiter colocou-o entre as estrelas, ele tornou-se a constelação de Sagitário.


Pigmeus:
 
Eram seres minúsculos, semelhantes a anões, seus nomes significam uma medida semelhante a 2,54 centímetros, segundo a mitologia, eram as suas alturas.
Os pigmeus viviam próximos às nascentes do Nilo (ou, através de outras fontes, na Índia). Homero cita que os grous sempre imigravam para o país dos pigmeus no inverno, e que a migração dos grous indicava uma sangrenta batalha contra os pequeninos.

Grifos:
 
Eram seres com corpo de leão, cabeça e asas de águia e costas cobertas de penas.
O instinto fazia com que os grifos sentissem a presença de caçadores, saqueadores e povos inimigos. Além de encontrar facilmente tesouros escondidos.
Construíam ninhos com fios de ouro, mas não punham ovos, punham ágatas (variações de pedras de quartzo). Segundo relatos, viveram na Índia e tinham garras enormes, das quais eram feitas taças.