Agora dorme, rapaz.
O dia foi infernal, sim, mas dorme.
Mesmo sem sono, sem dor,
sem alegria, sem pesar,
sem nada - pois nada tens -,
dorme.
Ainda tem muita coisa que não
entendes, mas dorme,
que nem tão cedo tudo se resolverá.
Menino, dorme.
Dorme, porque amanhã
não será melhor nem pior:
a vida é uma peça monótona.
Dorme.
Dorme.
Dorme.
Que o sono
é o ensaio da morte
e - quem sabe? - poderás
chegar à excelência só ensaiando
e ensaiando e ensaiando.
Dorme.
Que, dormindo,
talvez algumas vozes se calem
ou apenas parem de gritar.
Fecha os olhos.
Fecha os olhos
e insinua o sorriso.
O dia foi difícil,
mas dorme, menino.
Permita-se
esquecer um
pouco a constituição,
os artigos e os parágrafos
da carta que tantas vezes
já rabiscaste nas voltas para casa.
Agora dorme
que hoje já é amanhã.
Dorme, que
amanhã tentarás
de novo viver sem ligar para
as miudezas, sem dar atenção às
coisas parecem escapar das tuas mãos.
Dorme. Dorme logo. Dorme.
(eu sei: é ridículo ficar falando isso para si próprio antes de dormir)
Raul Albuquerque
07/06/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário