hoje
um cão invadiu
o quintal de minha casa
mas não foi um cão qualquer
ele tinha pelos negros
e castanhos que guardavam
em si a mescla da desolação
ele tinha olhos mendigos
mas eu odeio cães
e bati a porta no seu focinho
enquanto eu lia
o tal cão choramingava
e gemia à porta
tentando
tocar-me o coração
- logo se vê que
era, como os outros,
irracional
e fez esse teatro todo
por quase uma hora
- o que muito me irritou
e atrapalhou minha leitura
e me fez ir dormir
mais cedo
dormindo estive livre
daquele odioso choro
e sonhei bem
- não lembro
bem do sonho
mas sei que sonhei
pela manhã
acordei e saí à porta
o cãozinho já não estava lá
nem seu choro irritante
nem seu olhar pedinte
onde estaria?
teria encontrado casa?
teria voltado a sua casa?
teria sido engolido pela rua?
uma vez morto
para onde iria: céu
inferno ou éter?
Raul Albuquerque
05/06/2013
Seu poema com mais cara de crônica que já li.
ResponderExcluirAhahaha... explorando novos ramos e possibilidades...
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