Eu quero trégua
e a bandeira branca que levantei
de nada serviu.
Se baixo os olhos,
a terra molhada
tem o teu cheiro.
Se olhos os montes,
andorinhas cantam teu nome
e eu deixo escapar
um riso rebelde.
Já perdi a conta das orações
em que entraste como
a que precisa ser feliz
ainda que longe de mim
- e nessas orações
eu corria madrugadas.
Se cometo crime,
és agravante.
Se te mato dentro de mim,
é homicídio desqualificado,
ato indeferido, pedido negado
e não morres...
mas eu fico detido
nos teus dias corridos.
Eu quero trégua
e a bandeira branca que levantei
de nada serviu.
E quando penso em seguir,
me seguras - às vezes,
sem querer.
E quando penso em parar,
tu paras - às vezes,
por querer
ver minha desolação
misturada com ilógica alegria.
Ainda que
eu emudeça
e a poesia pare de me visitar,
preciso de trégua.
Há tanto a fazer
e tantos assuntos
que posso escrever,
mas permaneço atracado
no teu cais.
A gaveta cheia de projetos
e a cabeça cheia de ideias,
mas só escrevo sobre uma
coisa - tu sabes que és tu.
Eu também sei.
Arranjarei um modo
de ir e que assim tu fiques,
ainda que eu siga por alamedas
inabitadas e juro que
entrarei por portões sem te avisar
e verás que para ti ainda há vida
a minha se foi
- talvez não reste tempo para
lembrares de mim e os dias
sejam ainda róseos -
eu danço só e livre
sobre noites de sexta-feira
desapareço durante os sábados
morro nos domingos
e descanso disso tudo
nas manhãs de segunda
para ser estrela instável pela noite
e vigiar tua viagem
para a aula mais chata do mundo.
Raul Albuquerque
10/06/2013
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