Com o caos que tomou o mundo islâmico nos últimos dias, é anunciada uma nova bomba para tal cenário: a publicação das memórias de Salman Rushdie. Autor do livro "Versos satânicos", que foi classificado como "ofensa ao Islã e ao profeta Maomé" pelo aiatolá Khomeini, o anglo-indiano teve sua cabeça valendo muito quando lançou o livro - e, hoje, vale 3,3 milhões de dólares. O livro intitula-se "Joseph Anton", porque esse foi o pseudônimo que ele usou durante o período em que fugiu da condenação à morte - inspirado em dois ícones: Joseph Conrad e Anton Tchekóv.
O livro tem a curiosidade ser escrito em terceira pessoa - algo nada comum em livros de memórias - e discorre sobre os sentimentos do escritor enquanto fugia da fúria islâmica. É do livro o trecho:
"O que pensou foi: Estou morto. Ficou pensando em quantos dias lhe restavam para viver, e achou que a resposta seria, com toda probabilidade, um número de um só algarismo."
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Cinquenta Tons de Qualquer Coisa
Essa nota é sobre o mais recente sucesso do mercado literário, conhecido das massas: Cinquenta tons de cinza (e continuações). Definido sucintamente como "romance erótico para mulheres", o livro é a prova de que a sociedade ocidental perdeu o controle de si própria.
O livro é recheado de fetiches, relações proibidas e "loucuras", ou seja, pronto para arrebatar multidões de mulheres solitárias e/ou insatisfeitas com as próprias vidas - uma prima pobre da autoajuda. Mediocridade e sexo vendem - e como vendem!
Algo que me chamou a atenção foi o feminismo machista que percorre o livro, pois a mesma mulher que conversa com sua "deusa interior" - e isso é ridículo - é a mesma que dá-se aos caprichos de um psicopata masoquista - só eu percebi o descompasso?
Além da impossibilidade de isso ser classificado como literatura, há ainda algo mais sociológico: o que se pode pensar de uma sociedade que aceita um "romance erótico para mulheres" como produção literária comum, exposto nas mesas de indicação de livrarias? Deve haver algo muito errado nessa história.
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