Com forte carga filosófica, a poesia do sevilhano Antonio Machado destaca-se na produção literária do Modernismo espanhol. Membro não consumado da Real Academia Espanhola, ele apresentou uma poesia desesperançosa e reflexiva. A profunda proposta filosófica de Machado pode ser vista claramente no poema "Cantares" - poema em que ele consagra uma frase esplêndida "Caminhante, não há caminho, se faz caminho ao andar":
Tudo
passa e tudo fica
porém
o nosso é passar,
passar
fazendo caminhos
caminhos
sobre o mar.
Nunca
persegui a glória
nem
deixar na memória
dos
homens minha canção
eu
amo os mundos sutis
leves
e gentis,
como
bolhas de sabão.
Gosto
de vê-los pintar-se
de
sol e grená, voar
abaixo
o céu azul, tremer
subitamente
e quebrar-se…
Nunca
persegui a glória.
Caminhante,
são tuas pegadas
o
caminho e nada mais;
caminhante,
não há caminho,
se
faz caminho ao andar.
Ao
andar se faz caminho
e
ao voltar a vista atrás
se
vê a senda que nunca
se
há de voltar a pisar.
Caminhante
não há caminho
senão
há marcas no mar…
Faz
algum tempo neste lugar
onde
hoje os bosques se vestem de espinhos
se
ouviu a voz de um poeta gritar
“Caminhante
não há caminho,
se
faz caminho ao andar”…
Golpe
a golpe, verso a verso…
Morreu
o poeta longe do lar
cobre-lhe
o pó de um país vizinho.
Ao
afastar-se lhe viram chorar
“Caminhante
não há caminho,
se
faz caminho ao andar…”
Golpe
a golpe, verso a verso…
Quando
o pintassilgo não pode cantar.
Quando
o poeta é um peregrino.
Quando
de nada nos serve rezar.
“Caminhante
não há caminho,
se
faz caminho ao andar…”
Golpe
a golpe, verso a verso.
(Tradução
de Maria Teresa Almeida Pina)
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