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Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

25 anos sem a poesia de Drummond


O poeta brasileiro "gauche" por excelência morreu há 25 anos. Grande nome da poesia modernista, Carlos Drummond de Andrade é um marco para a produção poética brasileira. 

Nascido em 1902, em Itabira (MG), Carlos foi desde cedo muito poético - revolucionário - o que o levou a ser expulso do Colégio Anchieta por acusação de "insubordinação mental" - nasceu poeta. Toda sua produção poética é marcada por um uso inteligente e surpreendente das nuances e dos recursos da língua. Refinado, o lirismo drummondiano é marcado por um trabalho complexo escondido atrás da simplicidade de suas palavras.

Sua primeira fase - dada como "fase experimentalista" - é marcada por um instinto modernista de reinventar modelos e sentidos de escrever. Sob influência dos modernistas de 1922, ele iniciou-se escrevendo poemas de ordem conceitual. Dessa fase, o maior exemplo da qualidade da poesia de Drummond é - indiscutivelmente - "No meio do caminho". O poema foi publicado na Revista de Antropofagia em 1928:

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Sua segunda fase - dada como "fase gauche" - é marcada pela desconformidade com o mundo, a sensação de autoexclusão, de afastamento do mundo externo. Encontrando um modo muito peculiar de escrever, Drummond inicia uma "poesia em primeira pessoa", onde o que havia para ele não passava dele mesmo. O poema que caracteriza - e da nome a - essa fase é "Poema de Sete Faces". Publicado no livro "Alguma poesia" em 1930:


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. [...]
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
 
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
Sua terceira fase - dada como "fase social" - é marcada por uma preocupação com o mundo, um olhar mais próximo da realidade externa. Extremamente influenciado pelas ideias socialistas, passou a ver a Segunda Guerra Mundial como um empasse único. O marco desta fase é o livro - e o poema - "Sentimento do Mundo", publicados em 1940:

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
 [...]
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
 [...]
esse amanhecer
mais noite que a noite.
Sua quarta fase - dada como "fase do não" - é marcada por uma poesia decepcionada, focada no tempo - com frequentes referências à morte, à filosofia, à metafísica e à reflexão. Marcado pela Guerra Fria, viu seus ideais serem corrompidos e o mundo cair no caos. O livro que marca essa fase é "Claro Enigma", publicado em 1951:
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
 
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
 
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
 
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
Sua última fase - dada como "fase da memória" - é marcada por uma retomada do passado focando a infância em Itabira (interior de Minas Gerais) , a família, o humor, o cotidiano e as ironias da vida. O livro que abre essa fase é "Boitempo", lançado em 1968. O poema que bem retrata sua carga nostálgica é "Confissões de um itabirano":
 [...]
Tive ouro, tive gado, tive fazendas. 
Hoje sou funcionário público. 
Itabira é apenas uma fotografia na parede. 
Mas como dói!

Um comentário:

  1. Cara, Drummond é gênio e não nega...
    (e o nome dele me lembra uma bateria)

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