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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

"Life of Pi" - polêmica e sucesso


O Oscar está chegando... e os cinemas enchem de ótimos (ou ditos ótimos) filmes. Do meio do turbilhão de lançamentos emergiu o filme "Life of Pi" por ser dirigido pelo grande Ang Lee e por seu primor técnico e estético.

Para começar, conversemos sobre o livro que serve de base para o filme. O livro "Life of Pi" é do escritor canadense Yann Martel. Isso já nos leva a uma polêmica pouco divulgada. O livro foi acusado de plagiar "Max e os felinos" - do escritor brasileiro Moacir Scliar. 
Explicando: O livro do Scliar foi lançado em 1981 e retrata um homem - Max - que sai da Alemanha, mas acaba por ficar à deriva com uma onça no meio do Oceano Atlântico. O que nada tem a ver com o pobre Pi que fica à deriva com um tigre no meio do Pacífico retratado no livro do Martel, lançado em 2001. (posso rir?)
Enfim... para completar a bagunça, o livro do canadense foi premiado com o "Man Booker Prize for Fiction" de 2002, o que deu visibilidade ao livro e despertou a questão do plágio. Um crítico percebeu os absurdos pontos comuns entre os livros e alertou Scliar - que decidiu não abrir processo contra o canadense. No fim das contas, Yann Martel admitiu "influência" e acrescentou agradecimento no prefácio do livro.

O livro foi adaptado para o cinema e o filme ficou nas mãos de Ang Lee. Bem... o filme recebeu 11 indicações ao Oscar - incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado.


A história - aparentemente fantasiosa demais - revela-se um cenário para discussões mais profundas acerca do homem - nos campos da religião e da psicologia humana.
Pi é um jovem indiano que apresenta-se como um hindu católico muçulmano - que se torna um adulto professor de kabbalah. Fato que traz à tona uma visão ecumenista das relações transcendentais. E é uma visão encantadora que nos leva pelo braço em tempos em que "tudo o que é sólido desfaz-se no ar".
O menino aprende de forma brutal que os animais não possuem alma - o que marca indiscutivelmente sua relação futura com Richard Parker (o nome do tigre que divide espaço com ele no bote à deriva). O menino conhece o amor - mas deixa-o na Índia. E viaja com a família para "o sonho americano". A viagem dá errado: turbulência, naufrágio. Só salvam-se Pi e Richard Parker num bote.
O bote é o ponto-chave. Nele Pi descobre coisas e descobre-se. A inicial fé em tudo desfaz-se e refaz-se com facilidade espantosa, mas, por fim, a ideia de "Deus" reforça-se de modo irreversível na mente de Pi.



Do ponto de vista técnico, o filme é impecável. Com cenas que - em breve - se tornarão antológicas. O filme é belo e cativante. A trilha sonora também é digna de muitos elogios. Enfim, se não viu, vá ver.

Mas... tradutores fazem uso de entorpecentes para trabalhar?
Pergunto porque o título do livro é "Life of Pi". 
O título do filme é "Life of Pi". 
Em Portugal, foi traduzido - como esperado e lógico - para "A vida de Pi". 
Por que diabos os brasileiros deram o título "As aventuras de Pi"?

-- Até a próxima!

2 comentários:

  1. Muito boa crítica. Gostei bastante do interessantíssimo caso do livro "aparentemente" ser um plágio. Ou para ficar mais bonitinho "ser influenciado" por uma obra de 1980. Eu sabia que o Scliar tinha algo a ver com o livro, só não sabia que originalmente a ideia o pertence.

    Quero muito ver o filme, principalmente pelos tão famosos efeitos impecáveis. Estou bem curiosa!

    Xoxo, Cora.

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  2. O filme pode até ter uma qualidade técnica impecável, como é a prática de muitos bons diretores que fazem filmes em hollywood, é normal. Entretanto lamentavelmente o canadense foi muito infantil(para não dizer outras coisas) ao se utilizar de uma narrativa que não é a dele. O brasileiro Moacyr Scliar já havia tido essa criatividade e escrito essa narrativa, na década de 80. O canadense com preguiça não se deu, sequer, ao luxo de evitar episódios idênticos com muitas passagem do livro. É pior o tema central é tal e qual. Pode até não ser plágio no sentido do conceito da palavra, mas foi de má fé e de muito mal gosto. E também uma agressiva falta de criatividade e maturidade do Yann Martel. É ridículo essa gente ainda hoje não respeitar os países do Sul, sobretudo o Brasil. É vergonhosa a conivência e falta de ética de quem o premiou e de quem produziu o filme. Se fosse ao contrário essa história não tinha esse desdobramento porque o Canadá e os EUA estavam a fazer grandes alardes de proteção aos direitos autorais. Não vou ver o filme, não compactuo com gente desonesta.

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