"Todo abismo é navegável a barquinhos de papel."
(Guimarães Rosa)
Há um fluxo ininterrupto.
Há um rio que - em suas sinuosidades -
desenha trajetos impossíveis
- impensáveis.
O cenário bucólico vai sendo
cortado por um córrego que
- gota a gota-
desagua num não-sei-onde
- que preserva seu encanto
imerso no mistério do sem-fim
Tudo grita:
- "Filho, lança tuas dores e teus fardos.
Lança sem medo teu barco.
Lança sem pressa tuas preocupações.
Lança sem medo teu barco."
Lançando o barco
- frágil e inseguro -
confiamos que ele
nos leve a terrenos e situações
inimagináveis.
Indico-te
- e nenhuma autoridade tenho para isso -
que soltes teu barco impiedosamente
no fio d'água que corta - e costura -
teu mundo.
O pior que pode te ocorrer
é que ele molhe, encharque-se e afunde.
Então, poderás fazer outro e outro e outro...
Mas algum destes outros há de romper
todas as barreiras e regras. E há
de descer tranquilo pelas corredeiras e
fugir do alcance da visão.
Enfim,
faze bons barcos
e lança-os.
Enfim,
faze bons barcos,
lança-os
e sê paciente.
Bons barcos vão longe
- quando lançados no córrego certo
no período certo.
Bons barcos darão certo
- no tempo certo.
Faze bons barcos e lança-os.
Então, descansa.
Raul Cézar de Albuquerque
12/01/2013
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