Convém saber que antropologia
tradicional considera-nos o último estágio de evolução das relações sociais. Na
época ágrafa, o ser humano viveu o estágio da selvageria. Na transição para o
advento da escrita, que coincide com a estruturação das primeiras sociedades
hidráulicas, os homens viveram a fase da barbárie. Com estabelecimento dos
primeiros Estados e com as primeiras legislações, estabelece-se também o que se
convencionou chamar de “civilização”.
Essa tal evolução proposta na ideia antropológica
pressupõe um melhoramento gradual nas relações humanas. O problema da teoria é
que essa gradação basicamente não ocorreu.
As relações sociais humanas encontram os mesmos problemas
e os mesmos artifícios sórdidos de predação. Somos animais. No sentido
biológico, o conceito de comunidade é o de um conjunto de várias populações de
espécies diferentes que traçam relações entre si, estas podendo ser de
cooperação ou de competição.
Nossas
comunidades não se diferenciam em nada desse conceito. São aglomerados
selvagens de populações diferentes, quer no âmbito sócio-econômico, quer no
âmbito moral-religioso. Desenha-se uma cadeia alimentar cheia de nuances e
variáveis, em que não mais valem as forças ou perícias predatórias, mas o poder
do capital disposto nas suas mais diversificadas faces.
Com o
tempo, a atividade subjugadora sofisticou-se e aumentou seu espectro de
atuação. Com o passar dos séculos, “evoluímos” das selvas literais para as
selvas de pedra, mundos de concreto e asfalto que esboçam suas dualidades.
Hoje, no entanto, a selva asfáltica colapsou-se em seu inchamento
descontrolado, então, fugimos para um novo ambiente, ainda selvagem, mas, desta
vez, um cenário etéreo e intocável que baseia sua crueldade na sua inexistência
na realidade.
Para
percebemos a não evolução de nossas relações sociais, antes sua maquiavélica
maquiagem, vale utilizar-se de um olhar crítico sobre as ditas – malditas e
benditas – redes sociais:
Ao modo
dos lobos que, quando sozinhos, utilizam-se do véu da noite para atacar suas
presas, os homens – animais sociais por natureza – fazem uso do anonimato
oferecido por algumas redes sociais para expor suas animosidades animalescas,
seus ódios resguardados. Sem o filtro da pessoalidade, da identificação e do
status social, ofensas são distribuídas a torto e a direito, geralmente sem
base lógica, com o instintivo desejo de obliterar uma vida social saudável, o
que configura uma ligação com o “impulso de morte” – “Tanathos”, segundo Freud
– dos predadores do mundo animal.
É tempo
de revisão das mesmas certezas de sempre. As mesmas máximas ainda são válidas. Portanto, “ao vencedor, as
batatas”.
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