Bem-Vindo ao Estação 018!


Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

domingo, 11 de novembro de 2012

Da Inutilidade da Poesia


Se perguntam a mim “Por que escrever poesia?”, vêm à tona milhares de respostas subjetivas. Subjetivas, pois não há um porquê lógico para produzir arte. A arte em si não tem fim prático. Arte é uma daquelas coisas que se faz por vontade (ou, à la Schopenhauer, Vontade de Poder), algo perto do instinto. Poesia é inútil, sempre foi.
Até aqui, não há novidades.

A questão atual é que, numa lógica absurda e mal construída, o que é inútil é imediatamente desimportante. Ou seja, hoje se algo não tem um fim prático não é importante. Vivemos no tempo da razão utilitária - onde até a racionalidade foi posta à margem do processo produtivo -, fato que explica esse desprezo não tão recente à arte. 

A constatação, porém, é que as pessoas fazem uso da poesia não por ela ser útil - pois ela não é - mas por ela ser importante - o que não depende de sua utilidade. Poesia tem uma finalidade intrínseca e pessoal, o que foge ao atual conceito de "útil". 

Poesia tem duas faces. 
Uma é apresentada ao poeta, essa é a face do desafio. É a que apresenta as palavras como meios para chegar a um fim - que é a própria Poesia. É a que permite libertação em moldes bem marcados - e por vezes burlados pelo escritor.
Outra é a apresentada ao leitor, essa é a face do descobrimento. É a que disponibiliza um campo minado, onde qualquer verso alheio pode desencadear sentimentos pessoais e intransferíveis. É o que dá ao Outro o atestado de insanidade assinado pelo paciente - que piora a cada verso.

Longe da tentativa acadêmica e falida de dar "funções" à poesia, a própria história empenha-se em provar que a poesia apresenta-se no processo cultural como algo importante, mas nunca útil. 
A poesia política de Neruda, Nobel de Literatura de 71, por exemplo, foi importante no cenário latinoamericano durante a Guerra Fria, mas não foi útil. Despertou o desejo de liberdade do povo, mas não convocou multidões às ruas.

Poesia é, portanto, inútil, mas importante. Algo impossível para as mentes adestradas e castradas. Não há fim determinado e comprovável que comporte a poesia. Poesia é vital, mas não é útil. 

Poesia...
... não é rentável.
... não vai salvar-nos do aquecimento global nem da crise financeira.
... não vai trazer-nos a solução dos problemas da sociedade contemporânea.
... não vai evitar guerras nem amenizar seus efeitos.
... não vai encontrar a cura do câncer nem da AIDS.
... não vai acabar com a fome nos países miseráveis.

E talvez até venha a fazer tudo isso, mas, se o fizer, será feito um poeta por vez, um poema por vez, um leitor por vez, uma inquietação por vez. 
Inútil totalmente inútil, mas igualmente indispensável.

Um comentário:

  1. ontem mesmo me pergutaram: -pq vc escreve poesia?
    e respondi: - pq me faz feliz, pq me dá prazer? - e só!
    achei que meu interlocutor ficou meio decepcionado, mas é isso mesmo, não escrevo poesia para enriquecer, para salvar as baleias, para conscientizar o país,para trazer liberdade...
    a verdade pode ser triste: compor pode ser um ato egoísta.


    visite o blog: http://poesiatuttifrutti.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir