Se
perguntam a mim “Por que escrever
poesia?”, vêm à tona milhares de
respostas subjetivas. Subjetivas,
pois não há um porquê lógico para produzir arte. A arte em si não tem fim
prático. Arte é uma daquelas coisas que se faz por vontade (ou, à la
Schopenhauer, Vontade de Poder), algo perto do instinto. Poesia é inútil, sempre foi.
Até aqui, não há novidades.
A questão atual é que, numa lógica absurda e mal construída, o que é inútil é imediatamente desimportante. Ou seja, hoje se algo não tem um fim prático não é importante. Vivemos no tempo da razão utilitária - onde até a racionalidade foi posta à margem do processo produtivo -, fato que explica esse desprezo não tão recente à arte.
A constatação, porém, é que as pessoas fazem uso da poesia não por ela ser útil - pois ela não é - mas por ela ser importante - o que não depende de sua utilidade. Poesia tem uma finalidade intrínseca e pessoal, o que foge ao atual conceito de "útil".
Poesia tem duas faces.
Uma é apresentada ao poeta, essa é a face do desafio. É a que apresenta as palavras como meios para chegar a um fim - que é a própria Poesia. É a que permite libertação em moldes bem marcados - e por vezes burlados pelo escritor.
Outra é a apresentada ao leitor, essa é a face do descobrimento. É a que disponibiliza um campo minado, onde qualquer verso alheio pode desencadear sentimentos pessoais e intransferíveis. É o que dá ao Outro o atestado de insanidade assinado pelo paciente - que piora a cada verso.
Longe da tentativa acadêmica e falida de dar "funções" à poesia, a própria história empenha-se em provar que a poesia apresenta-se no processo cultural como algo importante, mas nunca útil.
A poesia política de Neruda, Nobel de Literatura de 71, por exemplo, foi importante no cenário latinoamericano durante a Guerra Fria, mas não foi útil. Despertou o desejo de liberdade do povo, mas não convocou multidões às ruas.
Poesia é, portanto, inútil, mas importante. Algo impossível para as mentes adestradas e castradas. Não há fim determinado e comprovável que comporte a poesia. Poesia é vital, mas não é útil.
Poesia...
... não é rentável.
... não vai salvar-nos do aquecimento global nem da crise financeira.
... não vai trazer-nos a solução dos problemas da sociedade contemporânea.
... não vai evitar guerras nem amenizar seus efeitos.
... não vai encontrar a cura do câncer nem da AIDS.
... não vai acabar com a fome nos países miseráveis.
E talvez até venha a fazer tudo isso, mas, se o fizer, será feito um poeta por vez, um poema por vez, um leitor por vez, uma inquietação por vez.
Inútil totalmente inútil, mas igualmente indispensável.
ontem mesmo me pergutaram: -pq vc escreve poesia?
ResponderExcluire respondi: - pq me faz feliz, pq me dá prazer? - e só!
achei que meu interlocutor ficou meio decepcionado, mas é isso mesmo, não escrevo poesia para enriquecer, para salvar as baleias, para conscientizar o país,para trazer liberdade...
a verdade pode ser triste: compor pode ser um ato egoísta.
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