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Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A Poesia (de Pablo Neruda)

Pablo Neruda em Isla Negra, Chile

E foi a essa idade... Chegou a poesia
a procurar-me. Não sei, não sei de onde
saiu, de inverno ou rio.
Não sei como nem quando,
não, não eram vozes, não eram
palavras, nem silêncio,
mas de uma rua me chamava,
dos ramos da noite,
de repente entre outros,
entre fogos violentos
ou regressando só,
ali estava sem rosto
e me tocava.

Eu não sabia o que dizer, minha boca
não sabia
nomear,
meus olhos eram cegos,
e algo golpeava minha alma,
febre ou asas perdidas,
e me fui fazendo só,
decifrando
aquela queimadura,
e escrevi a primeira linha vaga,
vaga, sem corpo, pura
tolice,
pura sabedoria
do que não sabe nada,
e vi logo
o céu 
descascado
e aberto,
planetas,
plantações palpitantes,
a sombra perfurada,
cravada
por flechas, fogo e flores,
a noite esmagadora, o universo.

E eu, mínimo ser,
ébrio do grande vazio
constelado,
a semelhança, a imagem
do mistério,
me senti parte pura
do abismo,
rodei com as estrelas,
meu coração se desatou no vento

Poema "La Poesía" de Pablo Neruda.
Publicado em "Memorial de Isla Negra" em 1964.
Fielmente traduzido por Raul Cézar de Albuquerque.

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