Bem-Vindo ao Estação 018!


Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

sábado, 2 de junho de 2012

Em Breve



Eu vou morrer.
Parece-vos óbvio, mas, agora, parece-me próximo.
Por motivos que não merecem destaque, acabei assim:
caído numa encosta de um caminho qualquer,
sem ter como sair daqui – por não saber, não poder ou não querer.
Imóvel permaneço.
Eu já havia sonhado cenas piores
e o céu escurece, sinto uma lufada de ar.

Olhos para os lados. Ninguém.
O vazio parece tomar todo o espaço.
Um arrepio me toma - sou humano.
Eu posso chamar por alguém ou pedir socorro,
mas não me sentiria bem devendo minha vida a alguém.
Por que reluto em ter meu fim?
Olho fixamente para uma estrela solitária
- ela faz-me lembrar de mim.
Abismo. Fim. Nada.

Tudo parece desmoronar.
Não vou chamar ninguém.
Minhas pernas doem. Meus olhos umedecem-se.
Fecho os olhos e uma gota de som me faz abrir a boca.
Não vou chamar ninguém.
Respirar é doloroso. 
Lembranças desenham-se no negro céu.
Vejo claramente 
meus delitos expostos para todos,
minhas frases não-ditas são gritadas pelo vento.
Já não tenho medos, só ânsia de temê-los.
Não vou chamar ninguém.

Estou com sede. Há um córrego no horizonte.
Vou continuar aqui.
Sinto fome. Continuarei com fome.
Por que reluto em ter meu fim,
se tantas vezes já o louvei?
Por quê? 
Já matei tantas pessoas
e agora chegou a minha vez
de desfrutar do ignoto sabor
da eternidade.
Tenho sorte, pois, pelo menos, 
a morte não veio por mãos vingativas,
mas pelas calmas mãos da noite.

Fim. Não há finais felizes.
Há apenas finais. 
E a morte é um fim,
apenas um fim,
o suspirar vazio da alma cansada.
É o fim. 

Raul Cézar de Albuquerque
02/06/2012

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