Bem-Vindo ao Estação 018!


Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Ad hoc

No caso, a fotografia falha 
em revelar a geografia
do teu rosto,
pois tudo parece posto,
mas teus olhos dançam
sem melodia.

No caso, os dias marcam
os compassos e as notas
saem limpas,
pois dias são pesados,
mas tua voz é leve e leva
meu meio dia.

No caso, o não revelado
e coberto pelo cabelo,
que na foto não sai,
fica como o tempo 
que não passa,
o sorriso que não
perde a graça.

No caso, não há lei,
há um direito subjetivo,
solto como os teus cabelos,
de ouvir-te vez ou outra
falar sobre o que 
não entendo
e ouvir-te só 
e ler-te só
é ouvir e ler o que ecoa
nas curvas da Eternidade.

Raul Albuquerque
27/12/2013

domingo, 1 de dezembro de 2013

mea maxima culpa

Há quantos meses não te escrevo, moça...

É o meu tentar falho e feio
de retribuir-te o abandono.

É o meu falhar feio
em tentar te trazer 
para os meus dias,
mas eles são apertados
e tu nem cabes,
mas deverias caber.

Eu amo os dias em que tu cabes,
mesmo que só caiba a tua voz, menina.

E, quando tu não cabes
naquele quadrado infame do calendário,
tudo fica vazio,
mesmo que o quadrado esteja
cheio de suas vinte e quatro gotas
de falta de tempo.
Mas tu não constas
e a lua desce triste.

Se me abandonas, 
eu me morro um pouco,
mas não é culpa tua,
menina,
nunca será culpa tua,
nunca.

A culpa é minha.

Pois sou eu que te escrevo estes versos,
depois de ouvir um poema triste.

E por que a culpa é minha,
eu te peço perdão por escrever-te
de novo.
Mas é que
minha poesia fica mais 
____________
quando tu cabes nela.

Raul Albuquerque
01/12/2013

sábado, 30 de novembro de 2013

in verter

de:
raul

não sei quais foram os seus métodos
não sei se estava acordado quando você fez isto
ou se me fez dormir e me roubou costelas
ou se me iludiu com os olhos
enquanto me lia com as mãos
mas quando dei por mim
estava invertido

luar


quinta-feira, 28 de novembro de 2013

flúor na água

 a Nathaly Monte

Àquela que sabe 
                    (porque um homem de respeito disse)
             que o que sai do homem
          e não o que entra nele
                    é que o contamina

Àquela que estuda
             que o que entra no homem
     também o contamina

   Àquela que 
por mais que ame
                                um café
       sabe que
                      às vezes 
                                     privar-se
também é sinal de amor

Àquela que cita na oração
                              as giárdias e faz do pedido
                              quase uma aula de biologia
                  àquele que não precisa de aula

Àquela que lembra e conta o passado
      e faz com que eu esconda meu riso descontrolado 
                                         sob a mesa

Àquela que evita fotos
             e esconde seu riso
                            sob a mesa

Àquela que gosta do anacronismo

Àquela que chega quando não tem aula

A ela
          que não falte 
                                 A ela
 flúor na água para 
                         proteger o sorriso
                      (que não deve ser escondido   ;)

Raul Albuquerque
28/11/2013                        

volte sempre


eu não sei por que uso 
tantas palavras tão difíceis,
se te amar é tão fácil...

eu não sei por que uso
tantas palavras tão grandes,
se te amar é tão breve...

talvez seja para contrapor

eu peço para segurar sua mão
... queria saber dançar

dá-me um prazer irredutível
só reduzir teu nome
e fazer-te meu sol
porque rima

é inconsequente te querer
mas dou-me esse direito
ainda que não tenha

quando olho o relógio
quero que não seja tarde

sei que os grandes amores
são incendiários e são sem contrato
então
me perca 
me esqueça num canto
me diga 
me compre num riso
me leve
me deixe só
mas volte
        volte sempre

talvez esse meu
volte sempre
seja igual ao
volte sempre
daquelas cidades
do interior 
que não têm mais de uma rua
uma igrejinha
uma venda
pessoas na calçada
aquelas cidades
que nada parecem oferecer
que a gente nunca pensa em morar nelas
mas elas deixam lá
por descuido ou esperança
uma placa de 
volte sempre

vai que alguém queira voltar?
vai que alguém queira ficar?

que incrível seria se você
viesse 
e ficasse...

Raul Albuquerque
28/11/2013

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

_ carta

__
Sempre ouvi que não se deve começar falas ou cartas pedindo desculpas por algo, mas não vejo outro modo de iniciar isto aqui.

Então, perdão por já começar assim, pedindo perdão.

É que eu tenho errado tanto e tantas vezes e... tenho sido indigno. Quem fecha-se em muros não merece brisa, mas eu, que em muros me mortifiquei, recebo sempre do teu sopro diário. Quem faz teto contra a chuva não merece sol, mas eu, que me cobri de concreto, recebo de tua luz por frestas que a própria luz abre. Quem não abre janelas não merece ver a rua, mas eu, que não rasguei as paredes, sei dos problemas dos que atravessam a rua com o celular no ouvido, os papéis na mão, o vazio no estômago, o oco no coração, o vácuo no pulmão e o atraso no pensamento. Quem não coloca portas não merece receber visitas, mas eu, que mantenho meu cárcere intacto, tenho tua presença nos fins de tarde, não tomamos chá ou café, mas algo do som quente dos teus pulmões aquece meus invernos que vigoram nas minhas caixas - torácica e craniana.

Tenho também que agradecer pelas tuas surpresas, as que eu nem sei contar e que ainda preciso te perguntar sobre o como e o porquê.

Os caminhos não me cantam futuros. São todos incerteza. E eu aguardo tua visita amanhã ou hoje ainda, precisamos conversar. Tenho medo de que você canse e me abandone no meu cubículo - que é fechado e pequeno, mas bem localizado.

Eu me morro numa vida de felicidade inverossímil. Gosto de me despir dos adornos na sua frente - sem medalhas, sem armadura - e de dizer que estou tentando aprender, mas pareço não saber ler os teus recados na caixa de mensagens. Sei dos teus quereres em mim, mas não os conheço, e te amo, o que me destrói e me enche dum impreenchido desejo de ser.

Ser não o que sou - que é pouco. Ser não o que vi no delírio. Ser não o mais alto ou o mais central. Ser o que teus sussurros regem e o que teus olhos acompanham. Não tenho medo de tua mão, quando a sinto, ela já foi e deixou apenas a ferida ligada, como que costurada nas tuas linhas.

Preciso dormir. Espero sua visita. Deixarei café e chá prontos pra te esperar. Preciso saber quais são os meus planos.
Apareça, assim que der.



____________________ R. Albuquerque

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Sabê-lo

O saber é pessimista:
anota todas as dores
destaca os malfeitores
e põe tudo numa lista

O saber é pessimista:
analisa tudo o que dói
sente tudo o que corrói
e põe tudo numa lista

o saber é pessimista:
corta em partes o bem
coloca-nos como reféns
e põe todos numa lista

A todos é dado morrer:
como prêmio ou punição
como tese de conclusão
e é pessimista o saber

Raul Albuquerque
07/11/2013

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

ilegível


senhora
o que escreveram em ti
me é ilegível:
caracteres antigos
verdadeiros arcaísmos

não entendo o que te disseram

(e o que vislumbro
é tão absurdo
que prefiro negar)

nos teus olhos inconstantes
(ainda que belos)
vejo cidadelas
fortificações antigas

e minhas falas 
vêm de cidades suplantadas
muros cobertos de relva nova

meus velhos muros
hoje são puro verdor
e ver dor purifica

teu cansaço
parece gozo
e teus raros 
carinhos
bem caros
são dores
indolores

a anestesia
é pura
sensação
de alegria
arredia

o teu nome eu nem lembro
mas se tua prisão é florida
e já vês o fim da tua vida
vai, que já passou setembro.

Raul Albuquerque
31/10/2013

terça-feira, 29 de outubro de 2013

imensurável


- você me ama?
- sim sim sim
- quanto você me ama?
- quinhentos e noventa e mil

esse amor que
de tão imenso
chega a ser 
imensurável

os bons tempos 
em que o amor
- assim como outros delírios -
não precisava fazer sentido

a dormência 
em que as declarações
não precisavam de rima
nem de matemática

o próprio amor
cobria as incongruências,
como se depois de falar 
quinhentos
a gente percebesse
que era pouco
e acrescentasse
noventa
mas ainda seria pouco
e a gente coloca mais 
mil
mesmo que atrasado 
e fora de ordem

o próprio amor
cobria as incongruências

esse amor que
de tão imenso
chega a ser 
imensurável

e assim resta
a sensação 
de que ainda o mil
não poderia 
quantificar 
o quanto aquele janeiro
era largo
o quanto aquela presença
era preciosa

esse amor que
de tão imenso
chega a ser 
imensurável

e eu digo que
quinhentos e noventa e mil
foi a melhor resposta
que já dei na vida

Raul Albuquerque
29/10/2013

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

cortejo

rodas de cravos
rosas de várias cores
e outras flores 
cujos nomes não sei
mas são belas
e olhar para elas 
traz uma paz 
sem nome

bancos de madeira
a família inteira
num silêncio culpado
tenso e encorpado
mas não doloroso
não há crime doloso
em não lamentar

se cai uma lágrima
é logo enxugada
por inútil ser
o caso é sem volta
e não há escolta
que possa proteger 
um sorriso

o pesar é regra
e a alma pesa
dois quilômetros
de saudade sem par
de amor impreciso
a detonar
o seu regrado
improviso

o teto alto
não imita o céu
no ato
mas guarda
no silêncio intocado
um cântico
a ser executado
depois

de dois em dois
de par em par
é natural
ir lá olhar o fim
e assim
ter certeza
que a natureza
não gostou de mim

algumas frases ensaiadas
sobre fases necessárias
e dores que vem
para o bem
mas que passam
e ficam como contos
de encontros 
inesquecíveis

tentam beatificar
como se fosse imaculado
puro e sem pecado
mas sabem dos 
erros repetidos
das falhas loucas
das opiniões sem sentido

lembram do dia
da bebedice
e do disse-me-disse
que corria sobre
aquele dinheiro
mas silenciam
como se a morte
filtro fosse onde
o que é bom ficou
e o podre foi-se

uma leve movimentação
anuncia que o cortejo
vai começar
como se o último desejo
fosse passear
pelas ruas distraídas
enquanto se trai
a própria vida
ao morrer

o cortejo parece 
ainda um adeus
mais prolongado
a despedida que
fica maior por não
querer despedir-se

desalentos
e passos lentos
tomam a rua

algumas nuvens curiosas
seguem o corpo
e tapam o sol
silenciosamente os de luto
agradecem
pois faz calor e o lenço preto
mais enxuga suor 
que lágrimas 

a rua corriqueira
e barulhenta
seca seu som
em respeito ao corpo mudo
que passa
ninguém manda ou organiza
as almas sentem o vazio
cães gatos homens pássaros
nem um pio

ao aproximar-se do fim
a cova rasa a terra
de boca aberta a
certeza incerta
de um fim depois
do fim um re-fim
e vários reféns

sem viúvas
sem órfãos
deixou inutilidades
deixou pesares
pequenas dívidas
eternas dúvidas
e legou um
silêncio reinante

sigo meu próprio
cortejo o fechar do caixão
não me sufoca o cair do corpo
não me doi a terra sobre a tampa
não me cobre lágrimas 
não me comovem 
não choveu

Raul Albuquerque
10-11/10/2013

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

doce

a cascata 
forma o caminho doce
que a minha fala 
percorre
e consome

levantar os olhos
e ver dois morros
e depois dos morros
haver o sol luzindo
  no céu 
       da tua boca
que sorri 
    gozando da minha cara

a minha fala
fala minha língua
e você resmunga 
desejos incertos
e abertos festejos

(e eu 
      que não sei sambar
   te fiz sambar 
            na minha língua)

R. Albuquerque
07/10/2013

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

obra-prima

no norte de Paris
os dedos do menino seguram o livro
os olhos do menino fitam o livro
o rosto do menino faz sombra sobre o livro

no sul do Pará
o rosto da menina faz sombra sobre o livro
os olhos da menina fitam o livro
os dedos da menina seguram o livro

não é o mesmo livro
mas o livro pouco importa
ambos ignoram o livro
querem escrever suas histórias
talvez não sejam publicadas
e suas mortes resumam-se
a uma nota linear e gélida de óbito no jornal do bairro
mas querem escrever sua história
e, já que irão escrevê-la,
que seja uma obra-prima (que só precisa ser lida por um leitor pra ser linda)

Raul Albuquerque
02/10/2013

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Secou o rio

Secou o rio
no verão da existência.
O calor morto
escurece os cimos.
Das alturas,
a chuva repensa sua tarefa
e não cai.
E não chove.
Enfim,
secou o rio.


Dos verdes milagres,
resta o gris.
Enfim,
secou o rio.

Em se transpor,
perdeu-se
o rio.

O que restou
não passa de efêmero 
vapor.

Do caudaloso rio,
restou um fio,
um fio d'água,
tímido,
mas esperançoso.

Um fio da linha do tempo,
há tempos, interminável, 

hoje linha frágil,
vida pequena.

Mas se a chuva
voltar a ser chuva,
o rio voltará

o que foi linha do tempo
será abundância.

Raul Albuquerque
25/09/2013

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

sacerdócio


foi achado ontem
o corpo do sacerdote
jogado no centro 
do templo

suicídio certamente

a mão ensaguentada
segurando a faca 
que traspassa a garganta
não deixa dúvidas

depois de anos
de sacerdócio silencioso
e solitário,
o homem sucumbiu

quatro paredes
de isolamento acústico
e mórbido concreto
coroadas com uma porta
que ninguém abre

o senhor barbudo
e cuja voz ninguém nunca havia ouvido
dedicara toda sua vida
- e toda sua morte -
àquele templo e a seu deus

o senhor cuja voz ninguém nunca havia ouvido
era uma lenda
construíra o templo
e entrara lá há muitos anos

ninguém sabia se vivo estava
nada via ou ouvia
que viesse do templo
sempre fechado

o hermético templo
era lenda
monumento
sinal dos tempos
relíquia
dúvida

mas numa tarde qualquer
em que o vento monologava
ouviu-se um grito

ouviu-se um grito
e a porta do templo 
entreabriu-se

todo o povo saiu e ficou à porta do edifício
todos tinham medo 
todos tinham dúvidas

até que alguém empurrou a porta
e todos viram
o velho sacerdote
caído no no centro 
do templo

suicídio certamente

o templo
tão idealizado
tinha poucos detalhes por dentro
mais parecia um galpão

lá o velho sacerdote
passara seus anos
dedicando vida 
tempo e voz 
ao seu deus

com o grito antes da morte
ele quebrara o sacerdócio

retiraram o corpo
e decretaram o lugar como amaldiçoado
selaram a porta

e assim
o silêncio
rei e deus
voltava a ser 
soberano
naquelas quatro paredes
que guardavam o chão ensanguentado
e a lembrança de um grito

Raul Albuquerque
20/09/2013

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

compaixão

                                   é pra todomundo sentir
                              a dor de todomundo
                      mas a dor de todomundo é muita dor pra 
                                             todomundo sentir

em vez de dividir
a gente soma e todomundo leva a dor de 
                           todomundo

                           todomundo no metro quadrado mais caro da cidade
                                                       o metro quadrado da ignorância
                        e todomundo leva 
            a dor de todomundo sem saber bem 
quanto de dor
            é a dor de todomundo


Raul Albuquerque
18/09/2013

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Só pra agradecer


Você, que já vai indo,
avisa lá que eu só tenho a agradecer.
Avisa que, depois da dor insuportável,
eu comecei a entender 
algumas pontuações
e entendi que eu não entendo
dessas coisas de viver.

Você, que já vai indo,
diz lá que eu agradeço
por não ter chance de escolher
- sei que escolheria errado.
Agradeço também 
pelas luzes apagadas
que nem me deram a chance de escolher o caminho
errado.

Você, que já vai indo,
não se esqueça de dizer
que eu agradeço
pelas algemas
- o crime de existir
me enquadra entre o mais vil
dos homicidas.

Você, que já vai indo,
leve meus agradecimentos
e meu laudo médico
comprovando que os meus pulsos
estão comprometidos,
meu pulmão tem lá seus problemas
- depois do sufocamento -
e meu coração... ele não consta no laudo,
devo tê-lo perdido em algum lugar,
ou foi tirado enquanto eu dormia
- provavelmente foi substituído
por um equipamento análogo,
não reclamo.

Você, que já vai indo,
agradece lá,
porque eu estou intacto,
nada me acometeu,
nem ventos passaram aqui,
por causa da janela fechada
que nunca consegui abrir.

Você, que já vai indo,
agradece lá.

Raul Albuquerque
17/09/2013

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

eco

quando eu grito
"cadê você?"
dentro de mim

só recebo o eco
"cadê você?"

ondestá você?
ondestá você?

sescondeu onde?
sescondeu onde?

os versos, cadê?
os versos, cadê?

tá tudo tão vazio...
tá tudo tão vazio...

você, ondestá?
você, ondestá?

aonde vai?
aonde vou?
                      nem sei, sabe?

Raul Albuquerque
16/09/2013

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

sobre semear (2)


ver nascer o que não se plantou 
é uma vertigem

quando faz sombra
ou alivia o calor
é diferente
afinal o céu dá presente
e nem tudo é labor

eu 
que plantei vento
nunca recebi furacão
ventania
ou brisa negligente

quando pensei em entrar
senti cair umas
três gotas

era uma chuva de fim de tarde
que não pedi
não plantei 
mas veio

não sei como veio
nem vi nuvens se formarem
só senti três gotas 
e estava chovendo 

num arroubo
olhar para cima e abrir a boca
era vital

bebi da chuva 
que não pedi 
nem plantei

a noite veio e a chuva acabou
recolhi-me fazia frio
daquela chuva
restaram-me 
um mal estar crônico
uma gripe (que às vezes vai mas sempre volta
                    e que inclui uma tosse de murmúrios e lamentos
                    e acesso de espirros - impurezas no pulmão)
e uma lembrança boa de uma chuva de fim de tarde

mas o que eu plantei não vingou
de quem me vingarei?

Raul Albuquerque
13/09/2013

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Amortecimento


caiu mas não doeu
amor teceu uma rede
e amorteceu a queda

tomara que 
amor teça redes
e amorteça quedas
até a morte ser

Raul Albuquerque
12/09/2013

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

incompletas

sou louco pra passear em tu

a rua

adoro entrar em tu

a casa

fico louco quando estou em tu

a sala

amo dançar em tu

a cozinha 
              [sem medo de queimar

quero mais é estar em tu

a cama
          [sendo te
                  u
                  único colchão e travesseiro
         [sendo ai
                        nda o primeiro
                              a ter tu
a vida por inteiro.

Raul Albuquerque