Bem-Vindo ao Estação 018!


Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Crítica do Livro "A Metamorfose"

“A Metamorfose” do genial escritor tcheco Franz Kafka inicialmente traz algo totalmente inimaginável... Uma metamorfose.

O caixeiro-viajante Gregor Samsa amanhece na forma de um inseto gigante. O que parece uma história pictórica e louca revela-se uma intensa e verídica análise psicológica daqueles que se alienam da sociedade.
Primeiro, Gregor fica surpreso e não se reconhece. Depois, percebe o repúdio dos outros.
Logo após, ocorrem o isolamento, a incomunicabilidade, os hábitos diferentes, a saudade e o desconhecimento da normalidade, a alternância de liberdade e prisão internas, a escassez de ligações com o mundo real e a impotência neste mundo, a surpresa com o próprio potencial, a vergonha do passado...
Com isso, vêm o descontrole, a irritabilidade e o medo do novo por parte dos outros...
Ao fim, Samsa percebe o mundo com outro olhar e parece não se importar com o que ocorre fora de seu pequeno quarto...
Numa última tentativa de voltar ao mundo real, Gregor é totalmente rejeitado e recolhe-se pela última vez... Gregor morre e Kafka escreve da morte de Gregor com tanta poesia, o que contrasta com os berros da empregada que anuncia a morte... O final do livro é revoltante, mas poético. A família rindo num parque falando do futuro, um futuro sem a imagem de Gregor.
Gregor é muito Kafka. Kafka é muito Gregor. Ambos alienados, repudiados, sozinhos, isolados, pequenos, fracos, frágeis e... tão geniais. Para prová-lo citarei três passagens incríveis do livro:

A paisagem - “Totalmente urbana, Rua Charlotte, poderia acreditar que de sua janela via um deserto, no qual o céu cinzento e a terra cinzenta se fundiam!”

Gregor e Kafka - “Um dos prazeres de Gregor, o ato de se encarcerar assim, de todo.”

A morte de Gregor - “Permaneceu nesse estado de reflexões vazias e pacíficas até que o relógio da torre bateu três horas da madrugada. Ainda vivenciou o início do alvorecer geral do dia lá fora, além da janela. Em seguida, sem que ele o quisesse, sua cabeça inclinou-se totalmente para baixo e das suas ventas brotou, fraco, o último suspiro”

Aplausos ao gênio! Fiquem com uma frase de Kafka:

“Não é necessário sair de casa.
Permaneça em sua mesa e ouça.
Não apenas ouça, mas espere.
Não apenas espere, mas fique sozinho em silêncio.
Então o mundo se apresentará desmascarado.
Em êxtase, se dobrará sobre os seus pés.”

Fantasia...

Pessoas de toda a Terra, voem longe!
Voem, adultos, mendigos e monges!
Pois fadas vindas de terras distantes
Farão com que a fantasia seja o bastante.

Muitas crianças aguardam diligentemente
A chegada das forças mais potentes.
A flor que nasceu do caos absoluto
Compadece-se de todos e de tudo.

Um novo universo ameaça começar a surgir.
As vidas começam a revolução de reevoluir.
Os infantos tão infantis vivem pra sonhar
E constituir a fantasia que já se põe no ar.

A dança dos elfos no equinócio de outono,
E o canto das dríades, espíritos sem dono,
Inauguram um inédito festival infantil
Comemorando a nova fantasia que surgiu.

Alan Djayce Santos Guimarães
(Base e Conceito)
&
Raul Cézar de Albuquerque
(Estética e Finalização)
19/08/2011

Post-Scriptium: Não posso esconder a felicidade de concluir com relativo sucesso este poema. Sempre quis fazer um poema em parceria e este superou todas as minhas expectativas. A fantasia típica da prosa de Djayce e a minha estética parnasiana confluíram de forma inevitável para a realização desse poema. Senti-me tanto a vontade que ainda incluí uma estrofe (a terceira), além das mudanças no original para aperfeiçoar o lirismo e a métrica. Espero que você tenha gostado tanto quanto eu.

O que não se aprende na aula de canto...

Existe um tom
  para curar uma ferida.
Existe um trom
  para indicar a despedida.
Existe um som
  para mudar uma vida.

Existe um canto
     que não se aprende na aula de canto.
que a vida não ensinou
     porque a vida só perguntou,
A resposta, eu tive de encontrar
     Sob o Sol ou sob a luz do luar.

Existe um tom
  para quem quer ajudar.
Existe um trom
  para quem quer humilhar.
Existe um som
  para quem quer revolucionar.

Existe um canto
  que não se aprende na aula de canto.

E, no final de tudo, eu vou entender
 Que um tom nada vai alcançar,
 Que um som de nada vai valer,
Se eu não estiver disposto a amar.

Raul Cézar de Albuquerque
13/08/2011

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Mal Secreto...

"Mal Secreto" é um poema do gênio do Parnasianismo Brasileiro, Raimundo Correia.
Embora mantenha profunda admiração por Olavo Bilac e, principalmente, seu poema "Língua Portuguesa", o meu poema preferido do movimento parnasiano no Brasil é este.
Ele mantém toda a métrica, toda a perfeição formal, mantém a estética parnasiana, mas o que é exposto no poema vai muito além da estética, ela vai à alma, à sua construção social e psicológica.
O poema fala do que vai escondido em cada coração humano, das dúvidas, dos sentimentos vergonhosos, do que nos torna mais terrenos que divinos...
Além das sílabas poéticas que funcionam perfeitamente, Raimundo ainda acrescenta um método do Parnasianismo francês, o enjabement, que consiste na ideia que permanece constante começando numa estrofe e terminando na seguinte.
Não perca tempo com a preguiça da estética modernista que, a mim, não passa de militância sem causa. Admire a arte do início do século XIX... ARTE:

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

Porque o verdadeiro mal é secreto!

On joue...

Mario Vargas Llosa
Estou lendo "A cidade e os cachorros", o primeiro livro do Nobel de Literatura de 2010, o peruano Mario Vargas Llosa. Leio cada página encantado, sua narrativa me espanta e seu talento me faz acreditar num futuro diferente... mas isso não é uma crítica!
Vim aqui falar da frase que Llosa usou como epígrafe do livro, uma maravilhosa demonstração do poder e do talento de outro Nobel, o francês Jean-Paul Sartre... Que vem a seguir:
"On joue les héros parce qu'on est lachê et les saints parce qu'on est méchant; on joue les assassins parce qu'on muert d'envie de tuer son prochain, on joue parce qu'on est menteur de naissance."
O francês é uma lingua belíssima, mas traduzirei ao português para que seja de comum entendimento:
"Nós temos o papel de heróis porque eles são inertes e de santos porque eles são maus; temos o papel de assassinos porque morrem de vontade de matar seu próximo, temos o papel porque somos mentirosos de nascença"

Temos o papel de... Bem diria Sócrates que o caráter não poderia ser definido, apenas discernido!

Jean-Paul Sartre


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Pseudo-Liberdade...

Hoje, abdico de todos os determinismos...

Mesmo que não seja possível nem provável.
Eu renuncio todos os mitos e achismos...
Desisto do que é facilmente alcançável.

Hoje, o “sim” independerá do “não”.
Desqualificarei o que é permitido.
Esquecerei as pieguices do coração.
Buscarei incessantemente o proibido.

Hoje, liberto-me das convenções.
Liberto-me do certo e do errado.
Desacorrento-me dos padrões.
Livro-me da corrente e do cadeado.

Hoje, fugirei das normas sociais.
Retomarei algo livre que há em mim.
Buscarei sempre um algo mais.
Direi mil “nãos” e algum “sim”.

A partir de hoje, o vento será meu parceiro...
Correrei com ele sobre uma paisagem.
Anelarei pelo efêmero e o passageiro.
Sendo mais um passageiro nessa viagem.

Raul Cezar de Albuquerque
09/08/2011

Homem Urbano...

Passando por escritórios,
Vejo muitos homens cansados.
Onde veem homens notórios,
Eu vejo escravos exaustos.

Loucos que passam sóbrios por corredores,
Eles sempre tentam mudar o mundo.
Todos, homens regrados e sonhadores,
Que põem uma praia no plano de fundo.

A areia da praia, o Sol e a luz,
Tudo o incomoda seriamente.
A praia traz o efeito de uma cruz,
Traspassa-o, fazendo-o impotente.

Mas nunca algo o fez tão feliz!
Ele parece um menino descobrindo...
Descobrindo-se da filial e da matriz.
Desconectando-se. Vivendo. Sentindo.

Raul Cézar de Albuquerque
29/07/2011

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Crítica do Filme "Capitão América: O Primeiro Vingador"


 
Há pouco aprendi sobre a importância de assistir filmes de ação legendados, e nunca dublados. E explico o porquê: Filmes de ação têm seu áudio gravado originalmente com o som de batidas, urros e explosões de verdade. Mas os dublados reproduzem tais efeitos de forma que o som fica, no mínimo, estranho.

Talvez você se pergunte sobre a importância da ação supracitada... O filme "Capitão América" dublado tem uma sonoplastia HORRÍVEL! E é tão ruim que, quando o filme acaba, você pensa (ou diz): "Ufa, ainda bem que acabou. Vi a hora de inutilizar meus tímpanos!"
Mas a sonoplastia foi só a primeira coisa deprimente que observei no filme, vejamos as outras:

2. Os efeitos especiais: No início do filme, o ator Chris Evans, que interpreta o herói americano, mostra-se pequeno, magro, fraco e lento, mas, após uma fatídica experiência científica, ele torna-se incrivelmente alto, forte, musculoso e rápido! (Que clichê! rsrs!) A questão é que o ator é alto e forte e, para adaptar sua imagem à imagem do herói pré-experiência, fazem um efeito especial mal feito em que a cabeça fica totalmente desproporcional ao corpo! O que torna a imagem estranha e risível!

3. O título descabido: O nome do filme é "Capitão América: O Primeiro Vingador" e só este nome já me traz duas reivindicações:
1- Por que Capitão América, se ele só luta pelos Estados Unidos? Por algum mistério do universo, a América se resume aos EUA?
2- Assisti o filme até o final (foi difícil!) e não entendi... De quem o Capitão América se vinga mesmo?

4. O cabelo lambido eterno: O cabelo loiro do Capitão sai de uma experiência científica lambido... lambido tipo gel fixador... passa-se todo o filme, caem aviões, ocorrem explosões, existem mortes, ele morre, ele ressuscita... mas o cabelo lambido mantém-se lá firme e lustroso.

5. O nacionalismo exacerbado: O legal do Capitão América é ir contra Hitler (ou o nazismo, escolha) e isso envolve as pessoas já pela questão do holocausto. Mas assistindo ao filme e pensando sobre ele, cheguei a uma conclusão: "O nacionalismo que o Capitão América traz, em nada se diferencia do nacionalismo incitado por Hitler que, por algum acaso, deu origem e apoio ao nazismo". O Capitão América não passa de um Goebles só que dos EUA!

Deixo aqui uma frase do filme que gostei:
"Só os fracos conhecem a força"