Bem-Vindo ao Estação 018!


Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

sábado, 20 de outubro de 2012

20 de Outubro - Dia do Poeta

Hoje, é o dia - ainda que gratuitamente - em que comemoramos a vida - e a morte dos Poetas (e faço questão de colocar o substantivo como próprio, como Baudelaire fazia).
Então, vou tentar homenagear os poetas mais importantes na minha vida de leitor - e de poeta também.
Segue a lista:

Vinícius de Moraes
 Quem me fez começar a gostar de poesia.

Fernando Pessoa
Quem me fez crer que eu poderia escrever poesia.

Pablo Neruda
Quem me disse por que escrever poesia: "É necessário"

Manuel Bandeira
Quem me mostrou a por a complexidade em formas simples


Charles Baudelaire
Quem me disse que a poesia pode - e deve - ser transgressora

Carlos Drummond de Andrade
Quem gritou: "Nem só de suicidas viverá a poesia."


Há um poema de Sérgio Lopes que descreve bem essa saga pessoal que é ser poeta:

Poetas são, por natureza, inconformados
Com a despoesia das vidas acinzentadas;
Com o sacrifício dos amores anulados
Pelo egoísmo das pessoas mal amadas

Poetas são, por natureza, solitários
A multidão que o acompanha são seus versos
No tempo em que viver são como missionários
De um lado a outro, seus escritos são dispersos

Mas quando finalmente morrem os poetas
Surgem os críticos, editores com suas metas
De publicar cada soneto rabiscado;

E só assim o mundo aceita a poesia:
Sendo o poeta vivente, ninguém ouvia.
Quando se cala seu poema é idolatrado.


Agora, segue uma homenagem a boa parte dos grandes poetas que me fazem respirar fundo e crer que ainda há muito a escrever, e perceber, e descobrir.



Respingos de Genialidade #30


"Há felicidade no mundo, Alec, e o sofrimento não é o seu oposto, mas a saída estreita através da qual passamos encurvados, arrastando-nos entre urtigas, à procura da clareira na floresta silenciosa banhada pelo luar de prata." 
Amós Oz, no livro "A caixa preta".

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A Função do Sonho


Para o caminhante, 
o caminho é tudo,
porque tudo acontece no caminho.

Se a queda ocorre no caminho,
o caminho é queda.
Se o sono vem no caminho,
o caminho é sono.
Se há desespero no caminho,
o caminho é desespero.
Se o amor surge no caminho,
o caminho é amor
- nem que por um pequeno trecho.

E, então, vem o sonho.
O sonho não ocorre no caminho.
Antes, é a fuga.
É o que foge ao tudo.
Já não faz parte do que conhecíamos
e havíamos catalogado na 
enciclopédia infinita.

O sonho é o que habita
onde não habitamos.
Acaba contando-nos
de terras sem fim
nem começo.

O fim ainda é caminho.
O sonho não.
E, quando se concretiza,
o sonho perde o poder de 
mediar tais mundos.
Parece desencantar-se
ou aposentar-se dessa função.

O sonho, pois, é tudo o que
foge ao que dizemos ser tudo,
um respiro aliviado longe da obrigação vital de respirar ar impuro.

Raul Cézar de Albuquerque
17/10/2012
*Dedicado a Ketilly Rayane

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A multivocalidade da Literatura Brasileira


O vídeo acima foi apresentado na Feira do Livro de Frankfurt para sugerir a multiplicidade de vozes que compõem a produção literária brasileira. Citando Mário de Andrade, Carlos Drummond e Guimarães Rosa, o vídeo coloca a diversidade que nos une. Pondo Manuel Bandeira e Olavo Bilac lado a lado, há a proposta de que, aqui, o opostos podem dividir a mesma página de um livro.
Uma bela homenagem à nossa história. 

Sobre os professores



Falar em professores sempre é motivo para que beiremos a pieguice e entremos numa espécie de saudosismo. E acho que não vou conseguir fugir disso.

Hoje, “professor” tem um significado mais humano, culminando às vezes em ser sinônimo de “amigo”. De início, somos – alunos e professores – inimigos mortais, pois não pode haver uma relação amistosa entre o avaliado e o avaliador, então, o educador e o educando, o erudito e a página em branco. Os grandes professores são aqueles que apagam essa imagem infantil e dicotômica da nossa cabeça.

Por vezes, o ambiente escolar é hostil e rigoroso. O professor tem o dever humano de amenizar a automaticidade das coisas, humanizar o processo. Talvez seja a voz que ecoa na primeira aula do dia que faça o adolescente voltar ao mundo real e esquecer as angústias ainda abertas do dia anterior.

E, imersos num mundo denso de alunos, avaliações e reclamações, são eles que nos conectam com um mundo totalmente exato, ortográfico, histórico, geográfico ou até artístico.

Ainda que o quadro esteja em branco, a presença de um professor que faça por merecer o título que tem faz com que o dia tenha lições inscritas de modo inesquecível. O modo próprio de ensinar a tabela de senos, de explicar o que é um isômero ou uma vegetação hidrófila, de passar as regras de acentuação gráfica, de caracterizar o cenário do pós-guerra, de expor os princípios da Semana de 22 ou até de exemplificar uma lei da física marcam a vida de um aluno.

Embora muitas vezes não pareça, nós – alunos – somos necessitados de uma risada – ou uma correção - matinal, uma regrinha a mais, um assunto novo e até uma informação que nunca usaremos na vida, porque tudo isso faz parte dessa ópera – ou dessa loteria – que é a vida.

sábado, 13 de outubro de 2012

13 de Outubro - Dia mundial do Escritor


"Para ser sincero, ser escritor é explicitar o desejo quase pecaminoso de ser Deus nem que por uma ou duas páginas." (C.P.)


E são tantos os que me fizeram fugir um pouco da realidade causticante - que é a vida. O escritor é - acima de tudo - um corajoso, que ousa expor-se através de seus personagens, sim, porque não há personagem que não seja uma face do escritor.
Escritores entendem que não há heróis nem vilões, ao menos, não separadamente - está tudo em nós. Sempre há um pouco de Capuleto num Montecchio. 
Loucos. Entre o ser e o não ser, eis o escritor. O escritor é o pervertido que fica nu no palco, mas não tira a máscara.
Mais que um contador de histórias, o escritor é aquele que se põe como atravessador entre o real e o surreal, entre o ridículo e o sóbrio, entre a mocinha chorona e a leitora sonhadora.

"Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as ideias." (Pablo Neruda, porque ele sabe o que fala)

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Primeira Viagem (de Pablo Neruda)


Para expressar algo sobre o dia dos infantos, decidi publicar um poema autobiográfico do Neruda (porque ele é demais) que remete a essa fase tão... desbravadora da vida.

Não sei quando chegamos a Temuco.
Foi impreciso nascer e foi tardio
nascer de verdade, lento
e apalpar, conhecer, odiar, amar,
tudo isso tem flor e tem espinhos.
Do peito poeirento da minha pátria
levaram-me sem fala
até a chuva da Araucanía.
As tábuas da casa
cheiravam a bosque,
a selva pura.
Desde então meu amor
foi madeireiro
e o que toco se converte em bosque.
A mim, confundem-se
os olhos e as folhas,
certas mulheres e a primavera
de avelã, o homem e a árvore,
amo o mundo do vento e da folhagem,
não distingo lábios e raízes.

Do machado e da chuva foi crescendo
a cidade madeireira
recém-cortada como
nova estrela com gotas de resina,
e o serrote e a serra
se amavam noite e dia
cantando,
trabalhando,
e esse som agudo da cigarra
levantando um lamento
na obstinada solidão, regressa
ao próprio canto meu:
meu coração segue cortando o bosque,
cantando com as serras na chuva,
moendo o frio e serragem e aroma.

"Primer Viaje"
Escrito por Pablo Neruda, em Valparaíso, em 1961(?).
Publicado em "Memorial de Isla Negra", em 1964.
Fielmente traduzido por Raul Cézar de Albuquerque

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Tempo Indeterminado


E o futuro foi trancado
numa caixa opaca e ignota
que só será aberta no findar
do sonho e do querer.

Adiada foi a vida.
A eternidade foi suspensa
por uns meses - por tempo indeterminado.
Foi o golpe de misericórdia.

- Touché! - disse o universo etéreo
ao derrubar as colunas do meu
caos secreto - Touché!

Desolado e obliterado,
sentei frente ao dissolver raivoso
- e barulhento - das ondas,
pensei na caixa lacrada 
- portadora do caos e da bênção.

Ansioso pelo novo desconhecido,
entristeci-me. Mas, naquele momento,
todos os ventos do mundo
ignoraram seus caminhos normais e
passaram por mim num
espírito ciclonal de consolo materno.

- Espera, filho! - cantaram os ventos
alísios e os contra-alísios rebeldes - 
Espera, pois tua batalha foi apenas adiada!

Raul Cézar de Albuquerque
05/10/2012

Chico Xavier, o maior brasileiro de todos os tempos?


O povo decidiu... Chico Xavier é - até segunda instância - o maior brasileiro de todos os tempos. O país manteve-se bem alheio à competição - talvez por ter ocorrido no SBT, e não na Globo - e o resultado foi esse.
O processo seletivo já profetizava o desastre com Luan Santana à frente de Chico Buarque e Elis Regina, Neymar à frente de Chico Mendes e Oswaldo Cruz, Gugu à frente de Carlos Drummond de Andrade... e Ronaldo Fenômeno mais bem colocado que todos eles. [É, não iria dar certo]
Os finalistas foram até bem escolhidos: 5 políticos (Lula, FHC, JK, Getúlio Vargas e Princesa Isabel), 2 esportistas (Ayrton Senna e Pelé), 2 religiosos (Irmã Dulce e Chico Xavier), 1 revolucionário (Tiradentes), 1 inventor (Santos Dumont) e 1 arquiteto (Oscar Niemeyer).
Confesso que, ao ver os finalistas, pensei que o eleito seria Lula (por sermos um povo sem memória e este ser bem recente) ou Getúlio Vargas (por toda uma imagem criada em volta dele... "pai dos pobres"). 
Pois bem, falhei! Não pensei que o projeto fosse ser guiado por massas tão tendenciosas.
O primeiro "embate" do Chico Xavier foi contra a Irmã Dulce. Ele venceu por diferença ínfima, mas venceu, e daí foi até a final irrefutável.
A final foi entre Santos Dumont, Princesa Isabel e o próprio Chico Xavier. Torci por Santos Dumont por bons motivos:
1- A obra do Santos Dumont não se restringiu ao Brasil, antes possibilitou maravilhas ao mundo.
2- A princesa Isabel não fez muita coisa. Assinou um documento que já estava pronto (que era incompleto, malfeito...) e ela nem assumiu, estava "tapando o buraco" na ausência do pai.
3- Para que um religioso venha a ser o maior nome de um país, ele deve ter uma obra social e política muito forte e ampla - que chegue a romper os limites da religião (o caso de Dom Helder Câmara). E Chico Xavier não teve vida nem obra de grande importância para o Brasil enquanto país e conjuntura social.
4- Enfim, por eliminação e admiração, Santos Dumont.

Bom... Não há o que fazer. 
A Itália escolheu Leonardo da Vinci (artista destacado do Renascimento Cultural, além de inventor). A França, Charles de Gaulle (Militar na Segunda Guerra e posteriormente governante do país). A Inglaterra, Winston Churchill (Grande nome inglês na Segunda Guerra, escritor e historiador). A África do Sul, Nelson Mandela (Extinguidor da legalidade do sistema de "apartheid"). E o Brasil... ah, o Brasil... escolheu Chico Xavier (médium).

Nunca esperei muito de nós, mas fiquei decepcionado!

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Sobre Kafka, o Pai e a Carta


Franz Kafka é um nome inquestionável na literatura moderna. Sua prosa densa e intrapessoal tornou-se referência para os que vieram após ele. Num olhar mais observador, é possível encontrar em toda sua obra uma constante: o sentimento de não pertencimento.
Por muito tempo ignorada, a influência de seu pai na sua produção é inegável e talvez fique mais clara no conto "O veredicto" - onde o filho (que claramente é Kafka) comete suicídio por determinação do pai.


Hermann Kafka, pai de Franz, parece ao filho um super-homem acima da moral e de qualquer outra coisa. A relação entre o pai e o filho era estranhíssima. Tão estranha que o próprio Kafka, aos seus 36 anos, decide escrever ao pai tudo o que o afligia e perturbava nessa relação através de uma carta - que nunca foi entregue a Hermann, mas ficou como uma obra de caráter autobiográfico.


A Carta é sincera e profunda. Sem dúvidas, Kafka relutou muito em escrever tudo aquilo, as palavras foram minuciosamente escolhidas e polidamente dispostas. E Kafka já começa imprimindo um tom de "resposta":
"Tu me perguntaste recentemente por que afirmo ter medo de ti. Eu não soube, como de costume, o que te responder, em parte justamente pelo medo que tenho de ti, em parte porque existem tantos detalhes na justificativa desse medo..."
Um segundo ponto alto da carta é quando reclama: "Tu me proibiste a palavra desde cedo, tua ameaça: 'Nenhuma palavra de contestação!'", revela que vê o pai como "a última instância" - ou seja, o juiz que dá o veredito, problema abordado em "O veredicto" e "O Processo" - e conta também que se sentia num mundo onde havia leis criadas só para ele.

Indiscutível ápice é quando confessa sua visão do pai: "De tua poltrona, regias o mundo." Colocação cheia de um sentimento de pequenez e cega submissão.

No entremeio, Kafka revela que via o casamento como um modo de fugir da dominação do pai. E que o pai sempre se opunha a seus casamentos sugerindo que Kafka só desejava casar-se porque a pretendente "levantou as saias".

Outra confissão que preenche grande parte do vácuo temático de sua obra é: "Minha atividade de escritor tratava de ti, nela eu apenas me queixava daquilo que não podia me queixar junto ao teu peito."

Não condeno absolutamente o pai de Kafka, já que este nunca levou as coisas em sua escala natural, sempre foi cheio de um ímpeto de supervalorizar algumas coisas - o pai, por exemplo - e desprezar outras - ele próprio é um caso -, além de ser tudo isso de tempo e sociedade diferentes da minha. O fato inelutável é que Kafka, o filho, usou de toda essa "dominação" para construir sua obra e...
O que seria de "O veredicto" e de "O Processo" sem o juiz?
O que seria de "O Castelo" sem o ditador?
O que seria de "A metamorfose" sem o ser metamorfoseado pela fuga da realidade que lhe foi imposta?

- Percebeu? O pai de Kafka está em todas!