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Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

segunda-feira, 16 de abril de 2012

"Peço Silêncio" de Pablo Neruda

Pintura de Gustave Caillebote


Agora, me deixem tranquilo.
Agora, se acostumem sem mim.


Eu vou fechar os olhos.


E só quero cinco coisas,
cinco fontes preferidas.


Uma é o amor sem fim.


O segundo é ver o outono.
Não posso ser sem que as folhas
vão e voltem a terra.


O terceiro é o grave inverno,
a chuva que amei, a carícia
do fogo no frio silvestre.


Em quarto lugar, o verão
redondo como uma melancia.


A quinta coisa são teus olhos,
Matilde minha, bem-amada,
não quero dormir sem teus olhos,
não quero ser sem que me olhes:
eu mudo a primavera 
porque tu me segues olhando.


Amigos, isso é o que quero.
É quase nada e quase tudo.


Agora, se querem podem ir.


Vivi tanto que um dia
terão que esquecer-me por força,
apagando-me do quadro:
Meu coração foi interminável.


Mas, por que peço silêncio
não creiam que vou morrer-me:
me passa todo o contrário:
acontece que vou viver-me.


Acontece que sou e que sigo.


Não será, pois, só que aqui dentro
de mim cresceram cereais,
primeiro os grãos que rompem
a terra para ver a luz,
mas a mãe-terra é escura:
e dentro de mim sou escuro:
sou como um poço em cujas águas
a noite deixa suas estrelas
e segue só pelo campo.


Se trata de que tanto vivi
que quero viver outro tanto.


Nunca me senti tão sonoro,
nunca tive tantos beijos.


Agora, como sempre, é cedo.
Voa a luz com suas abelhas.


Deixem-me só com o dia.
Peço permissão para nascer.


Poema "Pido Silencio" de Pablo Neruda.
Escrito em agosto de 1957. Publicado em 1958, no livro "Estravagario".
Fielmente traduzido por Raul Cézar de Albuquerque.

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