Bem-Vindo ao Estação 018!


Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

domingo, 10 de março de 2013

Embora em má hora


viu-a de longe
de uma distância gélida e segura

ela tinha a plenitude nos olhos
tinha o mar na voz
tinha o futuro tatuado nas costas

viu nela o sorriso
que sempre quis para si

e sorriu implicitamente

programou tudo
tinha até script e marcação de cena
seria perfeito:

ele iria até ela

e - despretensiosamente - perguntaria seu nome
iria apresentar-se
sorririam sem motivo aparente

iriam se ver nos fins de semana
num cinema, numa praça, 
numa lanchonete, num quarto...

depois eles iriam encontrar-se
mais vezes, mais próximos,
mais dados, menos distâncias,
menos não-me-toques,
mais me-toque...

e num dia seriam uma só carne
- inseparáveis como o manto negro
e as estrelas - numa noite de inverno
- ou verão, tanto faz.

e passariam fins de tardes juntos
e fins de noites
e inícios de manhãs

passariam a vida juntos

e passeariam juntos
pelas ruelas 
pelas avenidas
pelas rodovias
pelos sonhos 

e cansariam de tanto viver
e - de mãos dadas a ela - ele
sorriria explicitamente

ele iria
desintegraria a vida
e ela ficaria para contar
a história de um sorriso infindo
num rosto pouco bonito
mas puramente humano...

tudo contado no mais
esperançoso futuro do pretérito.

e o trêmulo rapaz deu três passos
deu mais dois passos
arrependeu-se

o que ela iria querer com ele?

por que iria gastar-se com ele?

o que tinha ele para poder tê-la?

eram tantas perguntas
tantos tremores
tantos temores
tantas dores crônicas
tantas tonturas e tontices
tantas incertezas
num mesmo rosto

ele parou no meio do pátio
abaixou-se para amarrar o cadarço
- que não estava desamarrado -
e voltou para a cadeira.

pobre garoto,
nunca iria saber que o nome dela era
felicidade
e ela estava louca para ser dele.

Raul Cézar de Albuquerque
10/03/2013

2 comentários:

  1. Meu caro Raul, eu creio que o poema trata de algo experienciado pelo poeta, me permito essa afirmação intrometida porque, como leitor, eu posso interpretar qualquer coisa. haha Mas achei interessante como no final você universalizou o poema. Esse garoto tímido pode ser qualquer um de nós, qualquer um que tenha titubeado diante de uma possibilidade de ser feliz porque junto a ela vinha a possibilidade de não só não ser feliz, como a o novo peso de uma frustração. Mas, como disse Guimarães Rosa, o que a vida quer da gente é coragem. E não posso deixar de dizer que achei sua linguagem um pouco diferente nesse poema. Soou-me como bossa nova ou algo do tipo, mais leve que o seu habitual...

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    1. É, Leandro, esse poema tem um viés bem autobiográfico... e também estou sentindo essa nova leveza na linguagem dos poemas...
      Obrigado pelo comentário!

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