Bem-Vindo ao Estação 018!
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
Invitation au voyage (de Mário Quintana)
"Se cada um de nós, ó vós outros da televisão
- vós que viajais inertes
como defuntos num caixão -
se cada um de vós abrisse um livro de poemas…
faria uma verdadeira viagem…
Num livro de poemas se descobre de tudo, de tudo mesmo!
- Inclusive o amor e outras novidades."
Mário Quintana
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
Devaneio #7

"Talvez seja o silêncio a maior prova de sabedoria, inteligência e erudição. O que edifica não surge em meio ao barulho, nem à confusão de ideias." (C.P.)
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Hemingway, o Conto e o Microconto...
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Ernest Hemingway |
"Por sua maestria na arte da narrativa, mais recentemente demonstrada em 'O Velho e o Mar' e pela influência que ele exerceu sobre o estilo contemporâneo"
Assim a Academia Sueca explicou o motivo da entrega do Prêmio Nobel de Literatura de 1954, o prêmio foi para o escritor estadunidense Ernest Miller Hemingway que foi um renovador da literatura universal.
Embora seja conhecido pelo romance "O velho e o mar" (lançado em 1952), ele reformatou o modelo clássico do conto, além de aderir a e criar novas tendências literárias.
O modelo de conto firmado por Hemingway é curto, enxuto e sugestivo, sempre aposta na compreensão do leitor, abrindo espaço para inúmeras possibilidades e para infinitas motivações que levaram ao desfecho.
O mais belo exemplo do estilo de Hemingway está no conto, considerado por muitos, o melhor de todos os tempos, "O Gato na Chuva" (clique aqui para ler), onde a personagem principal obtém um inexplicável (ou multiexplicável) apreço por um gato que está lá fora, na chuva. Este conto pergunta ao leitor: Por que ela queria tanto aquele gato? Por que seu companheiro demonstrou tanta indiferença? Como o gato chegou até ela? Sob que motivação? - E essas são apenas algumas das perguntas que surgem durante a leitura.
Marcado pela guerra - ele trabalhou como motorista de ambulância na Primeira Guerra Mundial e foi atingido por estilhaços de uma granada -, ele escreveu com precisão sobre sentimentos de desespero e desolação, prova disso é seu conto "O velho na ponte" (clique aqui para ler), onde o personagem parece tão abalado que apresenta um discurso incoerente, veja o trecho do conto em que o velho argumenta:
"Eu cuidava dos animais - lamuriou-se. Não se dirigia a mim, especificamente, e repetiu: - Eu só tomava conta dos animais..."
Hemingway é conhecido também pelo seu famosíssimo conto "As neves do Kilimanjaro" - talvez o mais famoso - em que demonstra conceitos acerca da vida e da morte, do desespero e da esperança; este é estranhamente mais longo que os outros contos de Hemingway.
Do seu longuíssimo conto "As neves do Kilimanjaro", vamos analisar uma tendência consolidada pelo próprio Hemingway: o microconto (ou miniconto).
A etimologia da palavra explica bem a forma deste gênero literário, é um conto geralmente resumido a apenas uma frase. Este modelo literário exige perícia, concisão e objetividade do escritor. O próprio Hemingway foi um excelente microcontista, veja este microconto:
Vende-se: sapatos de bebê, sem uso.
A reduzida frase apresenta várias leituras, possibilidades, causas e pontos de vista. Pois, pode ser apenas uma loja, mas também pode ser um casal que perdeu o bebê, uma mulher que sofreu aborto espontâneo, ou que realizou um aborto. Por trás dos 35 caracteres, pode haver a tristeza de uma mãe, de um pai, de uma avó, pode haver o alívio de uma mãe, de uma pai, de uma avó... Hemingway é um gênio, seja no romance, no conto ou no microconto!
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Ernest Hemingway escrevendo... |
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
La Guerra (de Pablo Neruda)

Espanha, envolta em sonho, despertando
como uma cabeleira com espigas,
te vi nascer, talvez entre as brenhas
e as trevas, lavradora,
levantar-te entre os carvalhos e os montes
e recolher o ar com as veias abertas.
Mas te vi atacada nas esquinas
por antigos assaltantes. Iam
mascarados, com suas cruzes feitas
de víboras, com os pés metidos
no glacial pântano dos mortos.
Então vi teu corpo desprendido
de arbustos, sujo
sobre a areia violenta, aberto,
sem mundo, incitado na agonia.
Até hoje corre a água de tuas rochas
entre os calabouços, e sustentas
tua coroa de espinhos em silêncio,
para ver quem pode mais, se tuas dores
ou os rostos que passam sem olhar-te.
Eu vivi com tua aurora de fuzis,
e quero que de novo povo e pólvora
sacudam as ramagens desonradas
até que se abale o sonho e se reúnam
os frutos divididos na terra.
Fielmente traduzido por Raul Cézar de Albuquerque.
Poema "La Guerra" de Pablo Neruda. Poema X do Canto XV do livro "Canto General". Escrito em 1949.
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Silêncio...

O título é uma boa explicação do que tentei fazer no poema... Um ensaio sobre o silêncio. Neste estado de espírito, o silêncio, quis escrever sobre o que sentia. Fiz uso de uma alegoria, mas nada que me tirasse a verdade do sentia quando escrevi... O Silêncio:
A refeição é feita
em silêncio.
Um silêncio tão
presente que poderia ser tocado.
Um silêncio
pessoal, geral e denso.
O silêncio puxou a
cadeira e sentou-se ao nosso lado.
À mesa, só o som
dos talheres.
O estalido das
facas, que não cortam a tensão.
Ali, só o silêncio
das mulheres.
Só o silêncio. Ninguém
quer falar daquela situação.
Mas o silêncio é a
prova de que o que aconteceu
Não sai do nosso
pensamento.
Os olhares baixos
vislumbram o que nos acometeu.
Os fatos recentes
tomaram nosso sentimento.
Todas as bocas se
mexem sem parar...
Mas só pra comer.
Enquanto ninguém
para de relembrar
O que acabou de
acontecer.
De repente, alguém
levanta
E vai para a sala
de estar.
A refeição não
mais encanta.
Um a um, todos começam
a levantar.
O silêncio só é
atrapalhado
Pelo arrastar das
cadeiras.
Mas logo é
retomado
Quando todos
acabam suas carreiras.
Então, todos se
sentam no sofá.
Alguém finalmente
liga a televisão,
Pra tentar calar o
silêncio que ainda está,
Ainda está em cada
coração.
E é esse o
silêncio que vai nos interessar,
O da morbidade da
emoção.
O silêncio do que
já está para acabar.
Este que não passa
de uma oração.
O silêncio que não
passa de uma oração.
Este que nos
preenche subitamente.
Que nos consola
quando se une ao som da respiração.
Este que preenche
corpo, alma e mente.
Raul Cézar de Albuquerque
23/02/2012
El Hombre (de Pablo Neruda)

Aqui encontrei o amor. Nasceu na areia,
cresceu sem voz, tocou os pedernais
da dureza e resistiu à morte.
Aqui o homem era vida que juntava
à intacta luz, o mar sobrevivente,
e atacava e cantava e combatia
com a mesma unidade dos metais.
Aqui os cemitérios eram terra
apenas levantadas, cruzes sujas,
sobre cujas madeiras derretidas
avançavam os ventos arenosos.
Fielmente traduzido por Raul Cézar de Albuquerque
Poema "El Hombre" de Pablo Neruda. Poema XII do Canto XI do livro "Canto General". Escrito na cidade de Santiago, Chile, em 1946.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Vácuo

O barulho se foi.
O som se foi.
O silêncio se foi.
Vejo que me restou
o nada.
A falta de ar
passou.
A respiração parou.
A vida cessou.
Restou-me esperar
a alvorada.
As cadeias caíram.
As liberdades
fugiram.
Os desejos me
impediram.
Eu já não sei o
que fazer.
As lembranças
acabaram.
Os esquecimentos
findaram.
As consciências se
apagaram.
Não tenho para
onde correr.
Os caminhos sumiram.
Os meus alvos caíram.
Os rastros me
iludiram.
Vejo que está tudo
vazio e opaco.
Só possuo o nada.
Não me lembro da
largada.
Não vejo a
chegada.
Estou preenchido
pelo vácuo.
Raul Cézar de
Albuquerque
21/02/2012
El Poeta (de Pablo Neruda)

Antes eu andava pela vida, no meio
de um amor doloroso: antes retive
uma pequena lágrima de quartzo
cravando os olhos na vida.
Comprei bondade, estive no mercado
da cobiça, respirei as águas
mais surdas da inveja, a inumana
hostilidade das máscaras e dos seres.
Vivi um mundo de lamaçal marinho
em que a flor, logo, o lírio
me devorava em seu tremor de espuma,
e onde pus o pé resvalou minha alma
para as dentaduras do abismo.
Assim nasceu minha poesia, apenas
resgatada de urtigas, exercida
sobre a solidão como um castigo,
ou reservou no jardim da imundícia
sua mais secreta flor até enterrá-la.
Isolado assim como a água sombria
que vive em seus profundos corredores,
corri de mão e mão, ao isolamento
de cada ser, ao ódio cotidiano.
Soube que assim viviam, escondendo
a metade dos seres, como peixes
do mais estranho mar, e nas lamacentas
imensidões encontrei a morte.
A morte abrindo portas e caminhos.
A morte deslizando-se nos muros.
Fielmente traduzido por Raul Cézar de Albuquerque.
Poema "El Poeta" de Pablo Neruda. Poema X do Canto XI do livro "Canto General". Escrito na cidade de Santiago, Chile, em 1946.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Método de Estudo "SQ3R"

Nestes nossos dias, não é difícil acha pessoas que têm tempo, disposição e vontade pra estudar, mas falta algo... elas não sabem bem como estudar. Assim elas se matam de estudar e não alcançam o resultado tão almejado. Isto porque o cérebro funciona de uma maneira diferente do que nós queremos, ele precisa de etapas para guardar uma informação por muito tempo.
Por esse motivo, fui levado a fazer este post. Para falar sobre um método de estudo que funciona tanto para aprender como para revisar um assunto, chamado "SQ3R". Um método simples e eficaz. Vamos ao método:
- O "S" é de "survey" que quer dizer "procura" em inglês. No primeiro passo, você vai definir o que você vai pesquisar. Numa folha em branco, você rascunhará o assunto, as ramificações do assunto, peculiaridades do assunto, mas apenas os tópicos. Ex: Matrizes (você colocará na folha: Definição, Tipos, Características, Métodos de resolução...)
- O "Q" é de "questions" (questões, em inglês). Neste segundo passo, você escreverá na folha perguntas que representam o que você quer saber sobre o assunto, perguntas relacionadas à primeira parte do método. Ex.: Matrizes (O que é matriz? Quantos e quais são os tipos? Quais são as características de uma matriz?...)
- O primeiro "R" é de "read" (leitura, em inglês). Neste terceiro passo, a folha de questões fica de lado e você pegará o material que você tem sobre o assunto, assim fará um sobrevoo sobre o texto, apenas lerá o texto, nada de prestar atenção nos detalhes ou decorar partes "importantes". Uma leitura rápida.
- O segundo "R" também é de "read". No quarto passo, você fará uma leitura aprofundada e lenta, destacando partes importantes, construindo conceitos próprios na mente. Neste ponto, você vai tentar realmente entender o assunto.
- O terceiro "R" é de "review" (revisão, em inglês). Neste último passo, você vai reler as partes que destacou como importantes, procurando relê-las e fixá-las na mente.
- Ao fim do processo, você esquece o material e pega a folha das questões. Sem ajuda de material, você irá responder às perguntas que você mesmo(a) fez. Se você não conseguir responder tudo, não será o fim do mundo, tente novamente.
- No início do uso do método será complicado, monótono e cansativo, mas com dedicação e disciplina, no futuro, você verá o resultado... Bons Estudos!
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
A Semana de Arte Moderna de 1922
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Cartaz de divulgação assinado por Di Cavalcanti |
A Semana de Arte Moderna de 1922 foi única e, por isso, importantíssima para o campo das artes no Brasil. Sem exagero, pode ser chamada de "Terremoto de 22", pelo tamanho do seu abalo nas bases europeias da arte brasileira (que só a partir de 1922, passou a ser brasileira de verdade).
A ideia da Semana foi do pintor e desenhista Di Cavalcanti, mas inicialmente era pouco ousada: seria apenas uma breve exposição numa livraria de São Paulo. Porém o escritor Graça Aranha, que tinha muitos contatos na alta sociedade, apresentou Di a Paulo Prado, um homem rico, culto, de formação europeia e com bom gosto artístico. Sobre apresentar a ideia da Semana a Paulo Prado, Di Cavalcanti disse: "Eu sugeri a Paulo Prado a nossa semana, que seria uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulista".
Paulo Prado gostou da ideia e aceitou o desafio de patrocinar o evento. Decidiu-se que a semana ocorreria no Teatro Municipal de São Paulo, que já era um marco artístico na cidade. Os camarotes foram postos à venda. A Semana de Arte Moderna de 1922 iria começar...
O primeiro dia foi o dia 13 de fevereiro. No saguão do teatro estavam obras de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret e outros artistas. A noite começou com uma palestra de Graça Aranha, "A emoção estética na obra de arte", que discorria sobre a renovação necessária nas artes. Depois houve declamação de poemas e execução de composições de Heitor Villa-Lobos. Esquecendo o espanto do público com as obras no saguão, foi a noite mais calma.
O segundo dia foi o dia 15 de fevereiro. Foi a noite mais agitada. Começou com uma palestra do escritor Menotti del Picchia, "Arte Moderna". Nela, ele dizia: "Queremos exprimir nossa mais livre espontaneidade dentro da mais espontânea liberdade." Depois da palestra, jovens autores apresentaram seus versos. O mais polêmico deles foi Manuel Bandeira, que não pôde estar presente por doença, mas mandou seu poema "Os sapos", que foi lido por Ronald de Carvalho, e, durante a leitura, recebeu vaias e foi atrapalhado pelo público que se recusava a ouvir os versos. Depois, houve uma apresentação de peças musicais de Guiomar Novaes, foi a parte mais calma.
O terceiro dia foi o dia 17 de fevereiro. Seria o dia mais calmo, pois só haviam peças musicais de Villa-Lobos na programação. Apenas seria, pois não foi. Não foi porque Villa-Lobos entrou no palco com um sapato e uma sandália. A plateia ficou desesperadamente irritada, considerou aquilo uma ofensa aos presentes. Villa-Lobos pediu calma e disse que só estava daquele jeito por estar com um calo muito inflamado no pé, o que acalmou um pouco a situação.
O que ficou da Semana de 22?
- Uma linguagem artística brasileira moderna, ou seja, renovada, afastada dos padrões europeus, longe da precisão parnasiana e da idealização romântica.
- Uma nova geração de artistas brasileiros que abordam o Brasil em suas obras. E tal geração continua se renovando.
- Uma queda do culto ao passado, dos preconceitos artísticos e da submissão aos padrões acadêmicos.
Vão e vêm
Não em vão"
"Relógio" de Oswald de Andrade
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Obra de Tarsila do Amaral, Abaporu. |
O primeiro dia foi o dia 13 de fevereiro. No saguão do teatro estavam obras de Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Victor Brecheret e outros artistas. A noite começou com uma palestra de Graça Aranha, "A emoção estética na obra de arte", que discorria sobre a renovação necessária nas artes. Depois houve declamação de poemas e execução de composições de Heitor Villa-Lobos. Esquecendo o espanto do público com as obras no saguão, foi a noite mais calma.
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O polêmico Manuel Bandeira |
O segundo dia foi o dia 15 de fevereiro. Foi a noite mais agitada. Começou com uma palestra do escritor Menotti del Picchia, "Arte Moderna". Nela, ele dizia: "Queremos exprimir nossa mais livre espontaneidade dentro da mais espontânea liberdade." Depois da palestra, jovens autores apresentaram seus versos. O mais polêmico deles foi Manuel Bandeira, que não pôde estar presente por doença, mas mandou seu poema "Os sapos", que foi lido por Ronald de Carvalho, e, durante a leitura, recebeu vaias e foi atrapalhado pelo público que se recusava a ouvir os versos. Depois, houve uma apresentação de peças musicais de Guiomar Novaes, foi a parte mais calma.
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O maestro Heitor Villa-Lobos |
O terceiro dia foi o dia 17 de fevereiro. Seria o dia mais calmo, pois só haviam peças musicais de Villa-Lobos na programação. Apenas seria, pois não foi. Não foi porque Villa-Lobos entrou no palco com um sapato e uma sandália. A plateia ficou desesperadamente irritada, considerou aquilo uma ofensa aos presentes. Villa-Lobos pediu calma e disse que só estava daquele jeito por estar com um calo muito inflamado no pé, o que acalmou um pouco a situação.
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Grandes nomes da Semana de 22 |
- Uma linguagem artística brasileira moderna, ou seja, renovada, afastada dos padrões europeus, longe da precisão parnasiana e da idealização romântica.
- Uma nova geração de artistas brasileiros que abordam o Brasil em suas obras. E tal geração continua se renovando.
- Uma queda do culto ao passado, dos preconceitos artísticos e da submissão aos padrões acadêmicos.
- A ascensão da liberdade artística que resultou em versos brancos e livres, em pinceladas menos mecânicas, em esculturas menos figurativas, numa arte mais espontânea, mais libertadora, mais livre, mais arte.
As coisas vêm
As coisas vão
As coisas
Vão e vêm
Não em vão
As horasVão e vêm
Não em vão"
domingo, 12 de fevereiro de 2012
A Questão da Verdade

No silêncio do meu quarto, diante do computador, sem olhares externos. Assim escrevi este poema. Espero que gostem da Questão da Verdade...
Deixe-me ir. Deixe-me seguir em frente.
Tudo me tenta a usar as sandálias da falsidade.
Tudo tenta me impedir de ser diferente.
Deixe-me ir, eu quero sentir doer a realidade.
Essa realidade em que tudo se sente.
Eu quero sentir. Nem que seja a dor da verdade.
Uma dor de verdade que não se mente.
Pois eu odeio estes sorrisos cheios de infelicidade.
Nunca me deixe armar o sorriso vazio.
Não deixe que eu me entregue à infelicidade,
Esquecendo o real sentido de tudo que se sentiu.
De tudo que fez a vida ser de verdade.
Se minha vida for uma mentira, deixe-me morrer.
Uma vida vazia realmente não me interessa.
Males necessários sempre irão me acometer.
Portanto, nem morte, nem vida, pedem pressa.
Para a vida, eu peço paz, amigos e felicidade.
Eu peço vida, amor e compreensão.
E tudo isso, necessariamente, de verdade.
Caso contrário, a morte será a melhor opção.
Sapatos? Eu prefiro os meus pés machucados!
Sorriso? Eu prefiro a expressão mais tensa!
Gritos de alegria? Eu prefiro os silêncios intocados!
Mentira confortável? Eu quero a verdade mais intensa!
A verdade impura e oclusa dos dias silenciados!
Diante do seu falso elogio, eu prefiro sua ofensa!
Deixe-me. Eu preciso da sua verdade.
Volte quando sua mentira se extinguir.
Eu preciso apenas da sua sinceridade.
Nada mais. Assim, poderemos seguir.
Raul Cézar de Albuquerque
12/02/2012
A questão de ser feliz

Estou feliz por voltar a escrever. E é dessa felicidade, inicialmente insignificante, que vou falar no poema. A verdadeira felicidade. O poema veio quando pensei na Questão de Ser Feliz:
Ser feliz é
uma das coisas mais simples da vida.
Talvez por
isso seja tão difícil.
Acostumaram-nos
a sofrer pra não ter ferida.
A chorar de
dor pra não ter suplício.
(E com certeza
há algo errado nesse pensamento.
Sofrer pra não
sofrer é ridiculamente impraticável.
Há algo de
inconcebível neste semi-sentimento.
Há muito de
infelicidade no sofrimento inacabável.)
A questão de
ser feliz é muito complicada,
Como já citei,
por ser simples demais.
Estamos
acostumados à vida sempre inacabada.
Acostumados à
cobrança que nos tira a paz.
E a felicidade
nos cobra uma falta de cobrança.
Ela precisa
chegar sem pressa.
Ela não
permanece onde há a desesperança.
Ela está onde
o controle cessa.
Não deixe a
felicidade pela certeza.
Não a deixe fugir
nem por um triz.
Entregue-se à
existência e sua leveza.
Não procure
ser, apenas seja feliz.
Raul Cézar de Albuquerque
11/02/2012
sábado, 11 de fevereiro de 2012
Sobre as Palavras Grandes...

"Não tenhas medo das palavras grandes, pois se referem a pequenas coisas.
Para o que é grande os nomes são pequenos: assim a vida e a morte, a paz e a guerra, a noite e o dia, a fé, o amor e o lar. Aprende a usar com grandeza as palavras pequenas. Verás como é difícil fazê-lo, mas conseguirás dizer o que quiseres dizer. Entretanto, quando não souberes o que dizer, use as palavras grandes, que geralmente servem para enganar os pequenos."
Quando li esta frase, pensei muito no modo como eu falo e/ou escrevo.
Pensei naquelas vezes em que usei palavras belíssimas com significados nulos.
Pensei nos advérbios que usei sem necessidade, aqueles "obviamente", "claramente, "de modo bem entendível".
Pensei muito no que ouço, no que ouço e acho incrível, mas não alcanço.
Conclui que usar belas palavras fica em segundo plano, quando se tem noção da importância que cada palavra tem independente de suas raízes etimológicas ou de sua recorrência na obra de algum escritor.
Como dizia a canção: "Palavras apenas... Palavras pequenas... Palavras ao vento."
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
A Poesia Política de Neruda...
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Pablo Neruda, Nobel de Literatura de 1971. |
Estava lendo uma Antologia Geral do Pablo Neruda, quando o trecho de um poema me chamou muito a atenção... O poema é "Explico algunas cosas", escrito em 1937, que fala sobre a desolação causada pela Guerra Civil Espanhola sobre o povo espanhol. Nunca o humano, o social e o político se juntaram tão bem em tão condensados versos...
Perguntareis por que sua poesia
não nos fala do sonho, das folhas,
dos grandes vulcões de seu país natal?
Vem pra ver o sangue pelas ruas,
vem pra ver
o sangue pelas ruas,
vem pra ver o sangue
pelas ruas!
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
Roubando Genialidade...
Estava olhando o blog de uma amiga que segue a linha de Tati Bernardi e C.F. Abreu, o que eu costumo classificar como prosa poética, por lembrar de Arthur Rimbaud ao ler alguns, e pela poesia mesmo na ausência dos versos...
Voltando ao assunto, no blog, me apaixonei intelectualmente por um texto em especial, talvez por, em síntese, ser algo que eu venho planejando há algum tempo, e não venho conseguindo concretizar... Algo sobre o amor futuro e a incerteza deste e a ânsia por este tal amor incerto...
E se o Amor tiver que vir, que ele apareça na minha janela cantarolando a doçura. Não te preocupas Amor, não vou te perturbar se vieres a minha janela e quiseres de fato adentrar em minha vida, não te espantarei com minha força como fiz das outras vezes, eu apenas permitirei que apareça, entres, permaneça se for de tua vontade. A promessa que te fiz de não mais te inquietar sem estares pronto pra vir, ainda está de pé. Ketilly Rayane
Quem gostou do texto, pode ver o tumblr dela.
Solilóquio...

Descobri a palavra "solilóquio" lendo "Noites Brancas" do Dostoiévski. Ela quer dizer monólogo, conversa consigo mesmo. A sonoridade da palavra me chamou a atenção, mas o significado da palavra me trouxe inúmeras possibilidades: loucura, indecisão, dúvida, solidão, etc. Fiquem com o meu Solilóquio...
Enquanto minhas perguntas se
multiplicam,
As respostas parecem sumir.
Minhas certezas cada vez mais
se complicam.
O que estava suspenso começa a
cair.
A estrada estava fácil de
trilhar,
Mas estou diante de uma
bifurcação.
Agora, que caminho tomar?
A vida me pede uma rápida
decisão.
Não sei bem o quê, mas algo me
faz crer
Que esta é apenas uma de muitas
bifurcações
Que este caminho da existência
irá me oferecer
Para que eu complete a jornada
com muitas razões
Para ver que tive muitas
oportunidades de escolher
Entre os mais altos picos e
mais desertas depressões.
Ainda não consigo me definir
com certeza.
Existem algumas probabilidades.
Mas a vida não é feita de
probabilidade nem destreza.
Não sei se a vida é uma junção
de realidades.
Não sei se só a minha realidade
tem esta frágil beleza.
Não sei se devo crer nessas
outras verdades.
E ainda há um vazio
intelectual,
Ainda tem a questão do amor.
O que é? É mesmo essencial?
Traz felicidade? Tem todo esse
fulgor?
Faz a vida ser mais especial?
É tão diferente quanto se
costuma supor?
Dúvidas e mais dúvidas, é o que
tenho a oferecer!
Desconheço-me e desconheço os
traços da existência.
Não sei bem o que a vida me
obrigará a viver.
Pois, só depois de viver tudo,
de tudo terei ciência.
Raul
Cézar de Albuquerque
05/02/2012
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
Devaneio #6
"E quanto à felicidade, é melhor não pensar muito sobre ela. Porque não é se preocupando com a felicidade que faremos com que ela venha sobre nós." (C.P.)
Morreu Wislawa Szymborska

Morreu ontem, quarta-feira (01/02/2012), a poetisa mais famosa que a Polônia já produziu, Wislawa Szymborska, aos 88 anos. Foi considerada a "Mozart da poesia". O nome complicado pra ler e escrever assinou muitos poemas cheios de humor e ironia, mesmo tratando de temas como o amor, a existêcia, a efemeridade...

Era restritamente conhecida até 1996. Até que no mesmo ano recebeu o prêmio Nobel de Literatura "pela poesia que, com precisão irônica, permite que contextos históricos e biológicos venham à tona, em fragmentos de realidade humana."

Ela viveu a Segunda Guerra Mundial e viu seu país ser obliterado pelos alemães. Mas sua poesia é cheia de um otimismo raro em poetisas. Em homenagem a ela, deixo um trecho do seu poema, pelo qual tenho especial admiração, "A vida na hora":
"A vida na hora.
Cena sem ensaio.
Corpo sem medida.
Cabeça sem reflexão.
Não sei o papel que desempenho.
Só sei que é meu, impermutável.
De que trata a peça
devo adivinhar já em cena.
Despreparada para a honra de viver,
mal posso manter o ritmo que a peça impõe.
Improviso embora me repugne a improvisação.
Tropeço a cada passo no desconhecimento das coisas."
"A vida na hora.
Cena sem ensaio.
Corpo sem medida.
Cabeça sem reflexão.
Não sei o papel que desempenho.
Só sei que é meu, impermutável.
De que trata a peça
devo adivinhar já em cena.
Despreparada para a honra de viver,
mal posso manter o ritmo que a peça impõe.
Improviso embora me repugne a improvisação.
Tropeço a cada passo no desconhecimento das coisas."

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