agora restou-me o esperar
e espero no terraço
sentado na cadeira que balança
vendo sol e lua fazerem sua dança
girarem em sua valsa
ignorando minha pressa
e desço ao campo
retirando os sapatos
e folgo o nó da gravata
a terra parece nula
mas já possui
todas as minhas sementes
todas
joguei todas
talvez eu tenha confiado demais
nessa terra potencialmente infértil
já não importa
lancei todas
nenhuma na mão restou
não me cabe pedir de volta
as sementes que
tão devotamente
lancei
é tarde
não deve passar das duas
mas as nuvens
- tão pequenas -
começam a cobrir o sol
- tão longe -
e fazem tudo parecer noite
por meia hora
caminho
com medo de pisar em sementes
caminho
por onde passo
e recolho um maço
de entrementes enraizados
a terra engoliu minhas
sementes
dei todas
não me cabe pedir
voltar atrás é para os grandes
e minha pequenez é constrangedora
vontade de correr
para dentro da casa grande
e gritar às paredes machadas
de café mofo e tempo
"deem um sumiço em mim"
"salvem-me de mim"
quando de vento se semeia
para se colher um furacão?
quando de vento se semeia
para se colher uma ventania?
quando de vento e tempo e dor
se semeia
para se ouvir a voz dela
numa brisa peregrina?
Raul Albuquerque
21/08/2013
Versejou com belas imagens, meu caro.
ResponderExcluirAh, Obrigado, Jorge!
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