Permanentemente não cantaremos o amor,
que se tornou cegueira alucinógena.
Cantaremos o medo, mas não apenas o medo,
pois cantar só o medo é medo de cantar
a vida - que vai além do amor e do medo.
Cantaremos o choro e o sorriso
com o mesmo ímpeto poético
quando ambos valerem a pena.
Cantaremos as manhãs de dias úteis
e também de sábados, domingos e feriados
sem nenhum profissionalismo.
Cantaremos as cerejeiras em flor
e os cactos e os descampados
com o mesmo olhar primaveril.
Cantaremos as tardes de chuva
e os protestos inflamados com
o mesmo calor na alma.
Cantaremos até o que não há,
o que no ar se perde, o que não
acontece, o que nos irrita.
Permanentemente não cantaremos o amor
e talvez assim ele não volte nunca mais
às arrasadas terras que nós
sempre falhamos em proteger
e então nasçam flores vermelhas e impolutas.
Raul Albuquerque
06/07/2013
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