
O poeta brasileiro "gauche" por excelência morreu há 25 anos. Grande nome da poesia modernista, Carlos Drummond de Andrade é um marco para a produção poética brasileira.

Sua primeira fase - dada como "fase experimentalista" - é marcada por um instinto modernista de reinventar modelos e sentidos de escrever. Sob influência dos modernistas de 1922, ele iniciou-se escrevendo poemas de ordem conceitual. Dessa fase, o maior exemplo da qualidade da poesia de Drummond é - indiscutivelmente - "No meio do caminho". O poema foi publicado na Revista de Antropofagia em 1928:
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. [...]
Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor. [...]
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis. [...]
esse amanhecer
mais noite que a noite.

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

[...]
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
Cara, Drummond é gênio e não nega...
ResponderExcluir(e o nome dele me lembra uma bateria)