Bem-Vindo ao Estação 018!


Seja bem-vindo ao "Estação 018"! Um blog pouco reticente, mesmo cheio destas reticências que compõem a existência. Que tenta ser poético, literário e revolucionário, mas acaba se rendendo à calmaria de alguns bons versos. Bem-vindo a uma faceta artística do caos... Embarque sem medo e com ânsia: "Estação 018, onde se fala da vida..."

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

cortejo

rodas de cravos
rosas de várias cores
e outras flores 
cujos nomes não sei
mas são belas
e olhar para elas 
traz uma paz 
sem nome

bancos de madeira
a família inteira
num silêncio culpado
tenso e encorpado
mas não doloroso
não há crime doloso
em não lamentar

se cai uma lágrima
é logo enxugada
por inútil ser
o caso é sem volta
e não há escolta
que possa proteger 
um sorriso

o pesar é regra
e a alma pesa
dois quilômetros
de saudade sem par
de amor impreciso
a detonar
o seu regrado
improviso

o teto alto
não imita o céu
no ato
mas guarda
no silêncio intocado
um cântico
a ser executado
depois

de dois em dois
de par em par
é natural
ir lá olhar o fim
e assim
ter certeza
que a natureza
não gostou de mim

algumas frases ensaiadas
sobre fases necessárias
e dores que vem
para o bem
mas que passam
e ficam como contos
de encontros 
inesquecíveis

tentam beatificar
como se fosse imaculado
puro e sem pecado
mas sabem dos 
erros repetidos
das falhas loucas
das opiniões sem sentido

lembram do dia
da bebedice
e do disse-me-disse
que corria sobre
aquele dinheiro
mas silenciam
como se a morte
filtro fosse onde
o que é bom ficou
e o podre foi-se

uma leve movimentação
anuncia que o cortejo
vai começar
como se o último desejo
fosse passear
pelas ruas distraídas
enquanto se trai
a própria vida
ao morrer

o cortejo parece 
ainda um adeus
mais prolongado
a despedida que
fica maior por não
querer despedir-se

desalentos
e passos lentos
tomam a rua

algumas nuvens curiosas
seguem o corpo
e tapam o sol
silenciosamente os de luto
agradecem
pois faz calor e o lenço preto
mais enxuga suor 
que lágrimas 

a rua corriqueira
e barulhenta
seca seu som
em respeito ao corpo mudo
que passa
ninguém manda ou organiza
as almas sentem o vazio
cães gatos homens pássaros
nem um pio

ao aproximar-se do fim
a cova rasa a terra
de boca aberta a
certeza incerta
de um fim depois
do fim um re-fim
e vários reféns

sem viúvas
sem órfãos
deixou inutilidades
deixou pesares
pequenas dívidas
eternas dúvidas
e legou um
silêncio reinante

sigo meu próprio
cortejo o fechar do caixão
não me sufoca o cair do corpo
não me doi a terra sobre a tampa
não me cobre lágrimas 
não me comovem 
não choveu

Raul Albuquerque
10-11/10/2013

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